Há 4 mil anos atrás, os grupos de nômades que andavam pelas terras entre os mares Negro e Cáspio eram os que possuíam os melhores artefatos de ouro da Terra. Essa comunidade que criava animais para viver, dominava o trabalho com ouro muito antes da maioria das outras civilizações.
O ouro era considerado por elas como artigo de luxo, e sua elite andava ostentando esse metal precioso, onde ele era encontrado até mesmo em túmulos, que possuíam diversos artefatos de ouro como jóias, taças entre outros tesouros.
Porém, o ouro acabou saindo de moda no Cáucaso e permaneceu sem ser muito utilizado por cerca de 700 anos. Um arqueólogo que notou essa característica, resolveu fazer uma pesquisa onde ele analisou diversos artefatos de ouro que foram encontrados por arqueólogos nos últimos 130 anos e descobriu que o item entrou em desuso no período entre 1500 e 800 aC.
A lacuna dos artefatos de ouro
Em meados da década de 2010, o arqueólogo Nathaniel Erb-Satullo, da Cranfield University no Reino Unido, costumava visitar museus em seu tempo livre dos trabalhos de escavações na Geórgia. Ele sempre admirou os requintados artefatos de ouro que encontrava no local, mas começou a perceber que existia um intervalo de tempo que não possuía esses artefatos, que geralmente ficava durante o final da Idade do Bronze e do início da Idade de Ferro.
Ao conversar com colegas, ele soube que outros pesquisadores haviam notado esta lacuna no tempo, mas ninguém havia investigado o assunto de forma aprofundada. Erb-Satullo ficou intrigado com o assunto, e também com a possível explicação alternativa de que as civilizações do Cáucaso poderiam ter perdido sua paixão pelo ouro por quase 1.000 anos.
Erb-Satullo seguiu então pesquisando mais sobre o fato, onde ele queria determinar se a lacuna indicava a queda no trabalho com o ouro. Para fazer isso ele desenvolveu um banco de dados onde ele inseriu todos os artefatos de ouro conhecidos do sul do Cáucaso, que datam entre 4000 e 500 aC.
Pesquisador analisou mais de 4 mil objetos de ouro
Em 2019 ele começou a analisar relatórios de escavações arqueológicas na Geórgia, Armênia e Azerbaijão, buscando estudos do ano de 1800 em diante. No final de 2020, o seu banco de dados possuía 89 sites e 4.555 objetos de ouro, o que incluía também copos, contas, estatuetas e fragmentos de folhas de ouro.
A observação do pesquisador mostrou que o fato dos museus de Geórgia raramente possuírem artefatos de ouro do período entre 1500 a 800 aC indicava que o trabalho com ouro naquela época havia declinado. Entre 2500 a 1500 aC existia cerca de 1.200 itens de ouro, porém esse número baixou para apenas 29 no período de 1500 a 800 aC. Fora da região do Cáucaso, a quantidade de artefatos de ouro continuaram crescendo e decorando túmulos de diversas comunidades antigas.
Segundo o estudo, houve transformações sociais durante as Idades do Bronze e do Ferro que fizeram com que o trabalho com o ouro diminuísse. A extração do ouro atingiu seu pico entre 2.500 e 1.500 aC, onde a maioria das comunidades nômades possuíam alguns membros que atingiram o status da riqueza.
Porém, por volta de 1500 aC o estilo de vida da época mudou e os grupos começaram a se estabelecer em aldeias que eram muitas vezes protegidas por fortalezas. Nesse período, os artefatos de ouro quase desapareceram e as elites poderiam ter reduzido suas exibições de riqueza.
O professor de Cambridge, Martinón-Torres, especialista em metais antigos que não participou da pesquisa sobre os artefatos de ouro, disse que “esse artigo é importante porque nos lembra que nossos valores não são universais. Mesmo algo que tendemos a considerar como uma mercadoria global — ou seja, o ouro, o fascínio do ouro — não é tão universal no espaço tempo.”