Pesquisadores encontram nova rede de aldeias na Amazônia

Felipe Miranda
(University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020).

Recentemente, os pesquisadores dispararam, sobre a Amazônia acreana, bilhões de feixes de luz de um LIDAR (tipo um radar, mas que utiliza luz). E no mês de abril, eles publicaram um estudo no periódico Journal of Computer Applications in Archaeology, mas que veio à tona apenas agora por causa de um episódio de uma série documental britânica que relata a rede de aldeias na Amazônia.

Agora, eles encontraram evidências de uma série de aldeias dispostas em um formato circular, como um relógio. As aldeias datam de algum momento entre 1300 e 1700, e os cientistas acreditam que o formato representa a visão do universo para os indígenas pré-Colombianos daquela região. 

Nas últimas duas décadas, os cientistas encontraram uma diversidade populacional e cultural muito maior do que imaginava-se antes na Amazônia. No entanto, poucos estudos olhavam para tudo isso de uma forma mais macro. Tendemos a olhar para os indígenas como “selvagens” que não organizavam-se além de sua aldeia. Mas os pesquisadores resolveram, agora, olhar para as aldeias como um todo, a fim de encontrar algum padrão.

“Nossos novos resultados documentaram características arquitetônicas distintas das Aldeias de Monte Circular, como a presença de estradas submersas, emparelhadas, cardinalmente orientadas, interconectando as aldeias, a ocorrência de uma diversidade de formas de monte dentro dos locais”, explicam

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Hoje as aldeias sumiram abaixo da vegetação. (University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020).

Rede de aldeias na Amazônia

A combinação de dados no LIDAR, equipado em um helicóptero, com dados de satélite forneceu, à equipe de pesquisadores da Universidade de Exeter e de institutos brasileiros, portanto, diversos dados inéditos. No total, eles localizaram 25 vilarejos circulares e 11 aldeias retangulares. Outras 15 aldeias de montículos já estavam desgastadas demais para que os cientistas as classificassem. 

As aldeias circulares possuíam um tamanho médio de cerca de 86 metros de diâmetro. Já as retangulares, um pouco menores – cerca de 45 metros de diâmetro, em média. 

Além disso, um ponto interessante é a presença de estradas planejadas. Assim, estradas duas largas interconectam os montículos, formando uma extensa rede de aldeias na Amazônia. A partir das estradas mais largas, havia bifurcações para estradas mais finas, que levavam até rios e riachos próximos. Aliás, já sabia-se da existência dessas estradas há muito tempo. Missionários espanhóis e portugueses já as relatam desde o século XVI, no início da exploração das Américas pelos Ibéricos. 

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Uma das estradas. (University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020).

“Os primeiros relatos históricos atestam a onipresença das redes rodoviárias na Amazônia. São mencionados desde o relato do século XVI de Frei Gaspar de Carvajal, que observou largas estradas que ligavam as aldeias ribeirinhas ao interior. Posteriormente, o explorador Antonio Pires de Campos, ao cruzar as cabeceiras do rio Tapajós no século 18, descreveu uma vasta população que habitava a região, com aldeias ligadas por estradas retas e largas, constantemente mantidas em limpeza”, afirmam os pesquisadores no estudo

Leitura arquitetônica

Os pesquisadores notaram semelhanças arquitetônicas com aldeias em outras regiões próximas. Eles citam como exemplo as aldeias no Xingu, que até os dias de hoje abriga uma famosa reserva indígena, além dos sítios arqueológicos. Lá, as estradas principais alinham-se com os pontos cardeais, isto é, Norte, Sul, Leste e Oeste. 

Mas não eram uma só cultura. Embora compartilhassem essas semelhanças, havia diferenças nos tamanhos das estradas, na forma como as aldeias se constituíam, etc. 

“Em conclusão, nossos dados mostram que após a cessação da construção de geoglifos (~ 950 AEC), a ocupação humana dessa região do sudoeste da Amazônia não foi interrompida, mas sim ampliada com um florescente sistema regional de distintas Aldeias de Monte”, escrevem os pesquisadores. “Os resultados contradizem as visões de longa data que imaginam áreas interfluviais da Amazônia e, a Amazônia ocidental, como esparsamente habitadas”.

O estudo foi publicado no periódico Journal of Computer Applications in Archaeology.

Com informações de Live Science e Daily Express

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