Cientistas reconstroem rostos de pessoas da Idade do Bronze

Mateus Marchetto
Imagem: Joana Bruno / ASOME / Universitat Autònoma de Barcelona.

Usando fósseis e análises genéticas, pesquisadores reconstruíram digitalmente rostos de pessoas que viveram na Espanha ainda na Idade do Bronze. Os indivíduos pertenciam à sociedade El Argar, da Espanha.

O objetivo principal da pesquisa, publicada no periódico Science Advances, por conseguinte, era analisar as mudanças culturais de indivíduos da Península Ibérica. Um estudo anexo, ademais, reconstruiu rostos de pessoas da Idade do Bronze, com base também nas análises genéticas.

A equipe de pesquisadores utilizou o DNA de ao menos 136 indivíduos da sociedade El Argar, do sul da Espanha. Estes DNA’s tinham idades variando entre 3.000 e 1.500 anos A.C.

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Fisionomia de 12 indivíduos de períodos diferentes. Imagem: Joana Bruno / ASOME / Universitat Autònoma de Barcelona

A Idade do Cobre e a Idade do Bronze são dois períodos que frequentemente se sobrepõem na história humana. Há mais ou menos 4.200 anos (em torno de 2.200 A.C) alguns povos da Espanha passaram por uma transição entre estas duas eras.

Desta forma, sociedades passaram a basear suas ferramentas principalmente no bronze ao invés do cobre. Isso porque o bronze – liga de cobre e estanho – tem maior resistência, ainda conservando a flexibilidade do cobre. Isso permitiu, portanto, um avanço tecnológico significativo neste período.

Ou seja, a cultura dos povos nativos provavelmente sofreu uma influência bastante profunda a partir desta revolução entre cobre e bronze. A equipe de pesquisadores buscou, então, avaliar quais seriam essas mudanças – e se elas afetaram a fisionomia das pessoas.

A cara da Idade do Bronze

Como mostra a pesquisa, a composição genética do povo de El Argar variou bastante ao longo das centenas de anos da transição citada acima. Além disso, essa população apresentou diferenças genéticas também de outros grupos da região.

Isso pode ter a ver, segundo a pesquisa, com a ancestralidade destes povos. Isso porque os humanos de El Argar tinham uma genética muito relacionada aos sapiens pré-históricos da Europa central, dominada pelo ecossistema de estepes.

Outros povos da Espanha da mesma época não apresentaram esses resquícios genéticos. A estepe, vale lembrar, foi o ecossistema dominante do planeta na última Era do Gelo, quando nossos ancestrais caçadores-coletores ainda eram mais nômades.

Essa genética de El Argar eventualmente se espalhou pela Europa e pela Ásia.

“Enquanto nós sabíamos que a dita ancestralidade relacionada à ‘estepe’, que se espalhou pela Europa ao durante o teceiro milênio A.C, chegou eventualmente à Península Ibérica em torno de 2400 A.C, nós ficamos surpresos em ver que todos os indivíduos pré-históricos do período El Argar carregavam uma porção dessa ancestralidade, enquanto os indivíduos Calcolíticos não.”

Assim afirma o autor Wolfgang Haak, em uma declaração. Estes outros indivíduos Calcolíticos, vale comentar, eram povos de fazendeiros de regiões próximas no mesmo período que não passaram pela transição cobre-bronze à época.

Ou seja, a mudança no metal-base da sociedade influenciou até mesmo a genética destes povos.

O segundo estudo de análise e reconstrução dos rostos ainda será publicado nas próximas semanas. Contudo, é possível conferir os resultados preliminares no vídeo abaixo:

A pesquisa está disponível no periódico Science Advances.

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