Enterro misterioso da Idade do Ferro pode conter restos mortais de pessoa não-binária de elite

Rafael D'avila

Os restos mortais de um indivíduo vestido com roupas de mulher e enterrado ao lado de uma espada sem cabo, há 900 anos, pode ser de uma pessoa não-binária. Os pesquisadores que fizeram a descoberta, no ano de 1968, em Suontaka Vesitorninmäki, Hattula, Finlândia, sempre tiveram opiniões divergentes sobre a origem do cadáver. Alguns dizem que a tumba pertencia a uma guerreira, enquanto outros garantem que o espaço continha, originalmente, um homem e uma mulher.

O European Journal of Archeology publicou uma nova análise de DNA revelando que, ao que tudo indica, aquele corpo se tratava de uma pessoa não-binária da elite. Nascido com cromossomos atípicos, ele pode ter sido ‘intersex’, ou seja, a identidade de gênero não era nem 100% masculina ou feminina.

Com o nome de ‘Síndrome de Klinefelter’, essa condição apresenta características especificas. Enquanto as meninas, na maioria das vezes, nascem com dois cromossomos X e os meninos com um X e um Y, os afetados por essa síndrome têm dois cromossomos X e um Y.

“Se as características da síndrome de Klinefelter [tivessem] sido evidentes na pessoa, eles poderiam não ter sido considerados estritamente uma mulher ou um homem na comunidade do início da Idade Média”, diz a autora principal Ulla Moilanen , arqueóloga da Universidade de Turku na Finlândia, em comunicado.

espada encontrada com pessoa não-binária
Imagem: Divulgação/ The Finnish Heritage Agency

Mesmo há centenas de anos, provavelmente a pessoa não-binária tinha o respeito da sociedade local

As pesquisas não conseguiram provar se a suposta pessoa não-binária realmente sofria de Klinefelter, mas os pesquisadores afirmam que, provavelmente, sim. “A equipe tinha uma quantidade minúscula de dados para trabalhar, mas mostrou de forma convincente que o indivíduo, ao que tudo indica, tinha um cariótipo XXY”. Pete Heintzman, pesquisador de DNA da Universidade Ártica da Noruega, disse ao Live Science.

A Escandinávia do início da Idade Média, é vista como uma ‘sociedade ultra-masculina’, onde considerava vergonhosos um homem exercer papéis femininos. Conforme o Guardian publicou, referente aos estudos de Jon Henley, as caras espadas e joias enterradas no túmulo sugerem que o ocupante era da elite.

“A pessoa não-binária parece ter sido um membro altamente respeitado de sua comunidade”, disse Moilanen no comunicado. “Os responsáveis pela sepultura colocaram ele sobre um cobertor macio de penas com peles e objetos valiosos”. Por conta dos bens fúnebres encontrados na tumba, há evidências de que aquele indivíduo tinha o respeito da sociedade.

“É possível que o indivíduo tenha sido aceito como pessoa não-binária porque já tinha uma posição distinta ou garantida na comunidade por outros motivos”, concluíram.

Com informações de Smithsonian Magazine.

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