Cientistas desvendam o túmulo do ‘Chefe de seis cabeças’

Felipe Miranda
(FAS Heritage).

Claro que ninguém pensa que a pessoa possuía seis cabeças. No entanto, nesse túmulo, há apenas um corpo completo, cercado por outras cinco cabeças, por isso o chamam de túmulo do ‘Chefe de seis cabeças’. Pouco se sabe sobre esse túmulo medieval localizado próximo a uma igreja católica em Portmahomack nas Highlands escocesas. 

Descobertos em 1997, os vestígios datam de algum momento entre os século XIII e o século XV, conforme uma pesquisa conduzida por arqueólogos da  Universidade de York, do FAS Heritage e apoiada pelo Historic Environment Scotland (HEA), uma agência governamental que mantém e protege sítios históricos importantes da Escócia.

As pessoas ali eram parentes, conforme revela uma nova pesquisa que analisou o DNA dos ossos e ainda não publicada em nenhum periódico. Conforme as análises, dois era primos, ou um tio e um sobrinho, e os outros três eram avô, pai e mãe do segundo homem. Nas proximidades, há a sexta cabeça. Possivelmente era o filho desse segundo homem, conforme relata o Live Science. Cecily Spall, arqueóloga na FAS Heritage e líder das pesquisas na região, diz ao Live Science que outros crânios enterrados no entorno de uma sepultura de alguém é algo bastante incomum naquela região.

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(Liverpool John Moores University).

“Você pode encontrar exemplos no Neolítico e na Idade do Bronze em que partes do corpo eram usadas para adoração, mas isso é algo completamente diferente. No período medieval, colher os túmulos de seus pais e avós em busca de partes do corpo e colocá-los em um cemitério contemporâneo é o mais incomum que pode parecer”, explica Spall.

Muita violência

O primeiro homem enterrado ali (o corpo central), foi dolorosamente assassinado. Um golpe cortou parte de seu rosto e foi dessa forma que ele morreu, como conta a arqueóloga Shirley Curtis-Summers. “O atacante teria enfrentado a vítima e desferido o golpe fatal no lado direito do rosto com uma espada grande e afiada o suficiente (como uma espada) para cortar os ossos faciais”, explica a arqueóloga.

Os cientistas pensam, ainda, que seja alguém importante, já que seu enterro ocorreu no centro da igreja paroquial. Era possivelmente um chefe local.

Traçando a história real do túmulo do ‘Chefe de seis cabeças’

Inicialmente, pensou-se que tratavam-se de túmulos dos anos 1480. Na época a igreja protagonizou o combate entre dois clãs das Highlands escocesas – Rosses e os Mackays, chamado Batalha de Tarbat. O Clã Rosses matou diversos membros Mackays, e depois incendiou a igreja para matar os sobreviventes da batalha, que se refugiaram lá dentro. Pois é, não é uma história muito benevolente. 

O túmulo do ‘Chefe de seis cabeças’ revela algo bastante incomum na região - crânios de parentes rodeando um corpo central.
(Tarbat Discovery Centre / Wikimedia Commons).

No entanto, o DNA revela a real história do túmulo do ‘Chefe de seis cabeças’.

“É fantástico ver o uso de DNA e análise isotópica ajudando a fornecer uma visão sobre as relações entre indivíduos em um sepultamento complexo de várias pessoas. Estas são técnicas que não estavam disponíveis quando as escavações ocorreram pela primeira vez”, diz a Dra. Lisa Brown ao jornal escocês The National. Brown explica que o projeto “conseguiu contar a história de um grupo familiar enterrado na nave da igreja, que pode ser apresentado ao público como parte do trabalho do Tarbat Discovery Centre”.

E após o incidente, os escoceses não abandonaram a igreja, mas a reconstruíram logo após o incêndio. Hoje, não funciona mais como igreja, mas praticamente como um museu. O local abriga o Tarbat Discovery Centre, que relata a história da região e exibe os artefatos arqueológicos recuperado nas últimas décadas.

Acredita-se que o motivo de os crânios estarem todos juntos seja uma maneira de reafirmar a linha sucessória no comando da região, caso o primeiro crânio seja de fato de alguém importante. Nesse caso, seus parentes estão legitimando a sucessão de outros membros da família no vácuo de poder.

Com informações de Live Science e The National.

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