Por que os dragões da era medieval eram considerados monstros?

Letícia Silva Jordão
Imagem: Domínio Público

Atualmente conseguimos encontrar diversos relatos de dragões em histórias de aventuras, onde em muitas delas, eles até ajudam o personagem principal. Mas os dragões da era medieval eram frequentemente retratados em relatos sobre a vida de santos e outras figuras religiosas.

Nesses relatos, encontramos facilmente as descrições de dragões como monstros enviados do inferno cristão com o objetivo de acabar com a humanidade. Essas histórias eram escritas assim porque eram utilizadas como ferramentas de ensino religioso, mostrando exemplos claros do que acontecia se a pessoa não seguisse os mandamentos celestiais.

Por mais que na época existissem outros tipos de monstros, como lobisomens, fantasmas ou mulheres que se transformavam em serpentes, os dragões da era medieval tinham um espaço especial na imaginação das pessoas da época, pois eles eram mais facilmente associados a inimigos oficiais da humanidade, muitas vezes lançados como agentes do diabo ou demônios disfarçados.

Os contos com dragões da era medieval

Bruce, um historiador da Fordham University, se dedicou nos últimos anos a deixar mais acessível às pessoas a forma que os indivíduos do passado viam os monstros. Entre 2016 e 2018 ele publicou uma coleção de textos do mundo antigo medieval demonstrando as principais diferenças entre os monstros do passado e os modernos.

Os dragões da era medieval, eram mais encontrados em histórias sobre figuras religiosas, como o relato escrito no século VI, que fala que um bispo de Paris chamado Marcelo conseguiu expulsar um dragão que havia devorado o cadáver de uma nobre pecadora. Segundo o relato, o bispo bateu três vezes na cabeça do dragão antes de o conduzir por uma coleira até a floresta, para que nunca mais incomodasse a cidade.

Mas esse monstro alado cuspidor de fogo também poderia ser encontrado em relatos de santos, como é o caso do São Jorge, um santo militar do século III que supostamente matou seu dragão na província romana da Líbia, no norte da África. Anos mais tarde, os cristãos consideravam que esse monstro era a definição dos pagãos da época, que ameaçavam a virtude das donzelas cristãs apenas para ser derrotado pelo cavaleiro.

O que os dragões representavam

No geral, os monstros descritos em histórias antigas são naturais e sobrenaturais ao mesmo tempo. Os dragões da era medieval já foram retratados como criaturas de florestas, demônios enviados do inferno ou até mesmo chegavam a representar os inimigos humanos que a igreja tinha em outros relatos.

Mas, diferentemente dos monstros retratados nas histórias modernas que tem o objetivo de causar terror e suspense, antigamente todos esses monstros não tinham como único objetivo assustar as pessoas, mas sim ensinar lições que os cristãos consideravam valiosas para alcançar a salvação.

De modo geral, os monstros que existiram durante toda a história servem para mostrar os medos profundos que cada sociedade tinha em suas épocas. Os dragões da era medieval eram os que assustaram muita gente, enquanto atualmente temos o Freddy Krueger ou até mesmo o Demogorgon da série Stranger Things para representar os medos da nossa sociedade atual.

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