Hominídeo arcaico fabricava ferramentas com ossos de elefantes há 400 mil anos

Rafael D'avila
Imagem: PLoS ONE

Arqueólogos examinavam artefatos coletados em uma região da Itália, até que descobriram ferramentas fabricadas com ossos de elefantes. Dentre esses itens, estavam objetos pontiagudos para cortar carnes e outros em forma de cunha, capazes de quebrar fêmures e ossos longos.

Os fabricantes das ferramentas pertenceram ao período Pleistoceno Médio, há pelo menos 100 mil anos antes do homem moderno aparecer. Sobretudo, estima-se que essa espécie de hominídeo arcaico viveu há 400 mil anos.

Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos, África do Sul, Itália e França, chefiado pela professora de arqueologia da Universidade do Colorado-Boulder, Paola Villa, foi o responsável pela descoberta. Os profissionais, entretanto, estudaram as ferramentas de ossos de elefantes, onde se depararam com detalhes gloriosos sobre o artesanato envolvido na fabricação das peças.

Segundo levantamento que os arqueólogos publicaram na revista Plos One, coletaram 98 ferramentas na província de Castel di Guido, que representam “o maior número de ferramentas feitas por espécie de hominídeo arcaico”. Durante a época do Pleistoceno Médio, havia um rio que cortava a região. Elefantes eurasianos matavam a sede ali, assim como os humanos daquele período.

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Ferramentas pontiagudas de ossos de elefantes. Imagem: Plos One

Quando uma dessas enormes criaturas morria, a população vasculhava os restos mortais em busca de carne, peles e ossos (que costumavam ser fortes e resistentes). Sendo assim, o hominídeo arcaico encontrava ali o material perfeito para confeccionar ferramentas, que geralmente eram personalizadas com pedras ou lascas do próprio osso.

Além de ossos de elefantes, a espécie usava fragmentos de outros animais

“Até recentemente, a ideia aceita era que a tecnologia óssea inicial foi essencialmente imediata e conveniente, com base em operações de estágio único. Ao que tudo indica, usavam fragmentos ósseos disponíveis de animais de grande a médio porte”, escreveram Villa e seus colegas em artigo à Plos One. “Apenas as ferramentas ósseas do Paleolítico Superior envolveriam vários estágios de fabricação com evidências claras de descamação primária ou quebra de osso, para produzir o modelo de fragmentos necessários para diferentes tipos de ferramentas, ou seja, elas são únicas.”

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As ferramentas acima foram feitas com ossos de Auroque (espécie de bovino selvagem), ou seja, não eram apenas elefantes. Imagem: Plos One

Sobre o hominídeo arcaico produtor deste material, existem algumas hipóteses, dentre elas os neandertais e homo erectus, ancestral do homo sapiens. A primeira vez que viram essa espécie foi há dois milhões de anos, e durante o período de fabricação das ferramentas, habitava por toda Europa e Ásia.

“Em outros locais há 400.000 anos, as pessoas estavam apenas usando qualquer fragmento de osso disponível”, observou Villa. “O pessoal de Castel di Guido tinha intelectos cognitivos que lhes permitiam produzir uma tecnologia óssea complexa. Em outras assembleias, havia ossos de elefantes suficientes para as pessoas fazerem algumas peças, mas não o suficiente para iniciar uma produção padronizada e sistemática de ferramentas”, finalizou.

A sociedade de Castel di Guido foi pioneira, todavia, permaneceu isolada, impedindo que seu conhecimento fosse passado adiante. Sendo assim, as técnicas precisariam ser redescobertas por outros indivíduos, em vários momentos do futuro.

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