Este crânio primata está causando polêmica entre os paleontólogos

Felipe Miranda
Sahelanthropus tchadensis. (Didier Descouens).

O termo humano refere-se a diversas espécies, não só aos sapiens (nós). Humanos são todos os animais do gênero homo – os  homo sapiens, homo neanderthalensis, homo erectus, entre diversas outras espécies. Embora algumas divergências, é consideravelmente aceito que este crânio primata descoberto em 2001 e descrito em 2002 se trata do hominídeo mais antigo conhecido – mas não humano. Os cientistas nomearam a espécie de Sahelanthropus tchadensis.

No passado, outras espécies humanas pisaram pela Terra – alguns tão inteligentes como os sapiens. Os neandertais, por exemplo, eram muito mais complexos do que sabia-se até pouco tempo atrás, conforme achados recentes. Mas todas as outras espécies humanas sumiram, e apenas nós sobrevivemos – e ninguém conhece ao certo o motivo. Talvez seja algo relacionado às guerras e luta pela sobrevivência entre as espécies.

Considera-se o Sahelanthropus tchadensis o hominídeo mais antigo conhecido, ou seja, o ancestral primata mais antigo parecido com os humanos. Entre os hominídeos de hoje estão os humanos, os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos. Os hominídeos caracterizam-se pela ausência de cauda, pelo polegar opositor, proporção maior do crânio em relação ao corpo, além de diversas outras características, em comparação aos outros primatas – características que permitem, por exemplo, a utilização de ferramentas e comportamentos mais tecnológicos em diversos sentidos.

Apenas um crânio primata?

No entanto, os cientistas consideraram nosso amigo ancestral como um hominídeo bípede com base em apenas um único crânio – o único conhecido. As características anatômicas indicam uma coluna ereta, e os dentes pequenos também indicam semelhanças com hominídeos. As evidências acarretaram na razoável aceitação de que fosse um ancestral dos humanos, além de um ancestral comum entre humanos e chimpanzés, como explica o bioantropólogo Walter Neves, da USP, no vídeo abaixo:

Mas claro, na ciência questiona-se tudo. Ainda em 2002, um quarteto de pesquisadores publicou um estudo na revista Nature dizendo que não haviam evidências o suficiente para classificá-lo como um hominídeo bípede e ancestral dos humanos. Na verdade, eles sugerem que fosse, talvez, um hominídeo, mas de outra linhagem – um primo dos humanos.

Na mesma época que encontraram o crânio primata, eles também localizaram um fêmur, que desapareceu misteriosamente com um pesquisador em 2004, mas reapareceu recentemente. Então, análises do fêmur ficaram defasadas, pela indisponibilidade da peça para que pesquisadores a analisassem. 

Questionamentos de todos os lados

Agora, Aude Bergeret-Medina e o paleoantropólogo Roberto Macchiarelli, ambos pesquisadores da Universidade de Poitiers, na França, lideraram um estudo que encontrou novos dados. Eles o publicaram no periódico Journal of Human Evolution.

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Sahelanthropus tchadensis. (Didier Descouens).

Os pesquisadores dizem que o fêmur não pode ser de um animal bípede, pelo grau de encaixe, por exemplo. Além disso, eles dizem que se o S. tchadensis é bípede, os cientistas não poderiam utilizar o bipedalismo como uma característica requisitória para o grupo dos hominídeos. 

Mas seus argumentos tornaram-se polêmicos. O pesquisador Martin Pickford, do Museu Nacional de História Natural da França, questiona a origem do fêmur. Ele não diz que o fêmur é forjado, ou algo assim. Mas ele questiona a espécie dona do fêmur. Para ele não há certeza de que o crânio e o fêmur pertencem, de fato, à mesma espécie. Outros críticos dizem que é difícil dar um veredito, já que o fêmur está bastante deformado para análises de bipedalismo.

O grupo comparou o primata com o Australopithecus (antigo e importante ancestral humano), gorilas e humanos. Eles questionam também o crânio, argumentando, também, que os dentes de um único crânio não justificam uma semelhança com os hominídeos. Conforme o grupo, o crânio poderia pertencer a uma pequena fêmea. Para eles, S. tchadensis não é um ancestral humano, muito menos hominídeo. Mas, como vimos, trata-se de um ponto polêmico.

O estudo foi publicado no periódico Journal of Human Evolution.

Com informações de Science Alert e Phys.org.

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