Isótopos são átomos de um mesmo elemento, contudo com o número de prótons diferentes. Certos isótopos são comuns na natureza e outros só se formam em eventos muitos específicos.
O Ferro-60, por exemplo, só se forma no núcleo de estrelas massivas e se espalha no universo quando ocorre uma supernova. O Plutônio-244, por outro lado, só se forma durante a supernova em si (e apenas alguns tipos de supernova) ou na fusão de duas estrelas de nêutrons. Esses dois processos também são chamados de processos-r (ou Processo de Captura Rápida de Nêutrons).
O interessante é que pesquisadores acabam de encontrar duas amostras de Fe-60 e Pu-244 na crosta do Oceano Pacífico, a mais de 1500 metros de profundidade. Contudo, ambos os isótopos têm tempos de meia-vida relativamente curtos na escala de tempo cósmica. O Ferro-60, por exemplo, tem uma meia-vida de apenas 2,6 milhões de anos. Ou seja, depois de 2,6 milhões de anos, metade da quantidade original se degradou e formou outros elementos. Para o Plutônio-244, esse tempo é de 80,6 milhões de anos.
Assim, os pesquisadores puderam concluir que esses isótopos tiveram uma origem bastante recente. Isso porque eles provavelmente não se formaram nos primórdios do Planeta Terra e do sistema solar, há 4,5 bilhões de anos.
Como os isótopos foram parar no oceano, então?
Levando em consideração as duas amostras, os autores chegaram à conclusão de que os isótopos chegaram no planeta em dois eventos diferentes. Ambos esses eventos devem ter acontecido dentro dos últimos 10 milhões de anos.
Contudo, a quantidade de plutônio nas amostras é menor do que seria esperado no evento de uma supernova comum. Assim, os isótopos devem ter se originado durante outros processos-r ainda não identificados.
Todavia, a pesquisa sugere de fato que dois grandes eventos cataclísmicos astronômicos aconteceram próximos à Terra nos últimos 10 milhões de anos. Outra hipótese menos provável, de acordo com os autores, é que esses elementos tenham se formado há muito mais tempo. No entanto, isso indicaria uma fusão de estrelas de nêutrons muito mais potente em termos de liberação de energia.
De uma forma ou de outra, um grande evento empurrou esses isótopos na direção do planeta. Estimativas do mesmo estudo mostraram que duas ou quatro supernovas entre 160 e 330 anos-luz de distância da Terra poderiam ter criado esse efeito. Ambos isótopos também poderiam estar à deriva no espaço e acabaram chegando no planeta por esses eventos.
O artigo está disponível no periódico Science.