Pesquisa mostra que a Amazônia está emitindo mais carbono do que absorve

Mateus Marchetto
Fumaça de queimada na reserva da floresta amazônica, ao sul de Novo Progresso, no estado do Pará, em 15 de agosto de 2020. Imagem: Carlo de Souza/AFP

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) lideraram um estudo de oito anos para avaliar as emissões de carbono na Amazônia. A pesquisa, publicada na revista Nature, mostrou que agora a Floresta Amazônica está emitindo mais carbono para a atmosfera do que é possível absorver.

A pesquisa, por conseguinte, começou em 2010 e coletou dados até o ano de 2018. Para isso, os pesquisadores realizaram medições verticais dos níveis de dióxido de carbono (CO2) e monóxido de carbono (CO) até 4000 metros de altura. Desse modo, foram necessários 590 voos em pequenos aviões sobre a floresta no período de oito anos.

O que a pesquisa mostrou é que as emissões de carbono aumentaram em até 30% em certas regiões da Amazônia oriental, ou seja, brasileira. A porção ocidental não sofreu tanto com o aumento da produção de carbono e manteve-se neutra. Ou seja, na parte oeste da floresta, a mata emitiu tanto carbono quanto consumiu. Isso, de acordo com a pesquisa, é característica de uma floresta relativamente saudável.

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Imagem: Luciana Gatti/INPE

Já no Brasil a situação está bem diferente. Os dados mostraram que regiões que perderam mais de 30% da cobertura vegetal tiveram uma emissão de carbono mais de 10 vezes maior do que em outras regiões que perderam até 20%. Ou seja, a floresta está emitindo mais carbono do que consegue absorver pela fotossíntese.

Problemas ecológicos e econômicos da emissão de carbono

Mas afinal, como o carbono está indo parar na atmosfera? Simplesmente, combustão.

Não é de hoje que as queimadas ilegais vêm acontecendo na Amazônia. Em geral, fazendeiros ilegais promovem queimadas para liberar espaço para pastagem e cultivo de soja. Esse tipo de comportamento, aliás, ganhou força após as eleições de 2018, quando políticas de conservação foram enfraquecidas em todo o território nacional.

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Imagem: sippakorn yamkasikorn/Pixabay

Apesar disso, o desmatamento da Amazônia é um problema há décadas. O que acontece é que agora ele chegou a níveis extremamente alarmantes. Isso porque a Amazônia pode simplesmente passar a se retrair, quando um certo nível de desmatamento é alcançado.

Diversas pesquisas e especialistas apontam que esse ponto de virada já chegou ou está muito próximo.

Tirando o evidente problema ecológico, da perda do hábitat mais rico do planeta, a Amazônia é o pote de ouro até mesmo dos fazendeiros que estão ateando fogo na floresta. Isso porque a floresta é responsável pela regulação do regime de chuvas e, inclusive, há indícios que as secas crescentes no país tenham origem no desmatamento da Floresta Amazônica.

A pesquisa do INPE, que inclusive já sofreu diversas investidas do governo Bolsonaro, reforça o diagnóstico de uma patologia grave do Brasil. Não apenas nas políticas públicas dos últimos 100 anos, mas também na falta da valorização do maior bem, econômico e ecológico, do país.

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Imagem: Edward Kirkby /Pixabay 

O artigo da pesquisa está disponível no periódico Nature.

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