A temática de que Marte pode, um dia, ser colonizado não é novidade. Diversas produções do cinema e da literatura já se encarregaram de explorá-la com eficácia; inclusive fazendo referência de que o planeta vermelho seria a nossa segunda casa. O fato é que ele tem muito o que nos dizer. Prova disso é a conclusão de que a velocidade do som em Marte é variável, como aponta um estudo recente.
As descobertas, publicadas no JGR: Planets, têm o potencial de fornecer aos cientistas uma compreensão mais profunda dos sons captados pelos rovers que exploram a superfície marciana.
Além disso, essas informações podem ser importantes para aumentar a segurança das futuras missões tripuladas ao planeta vermelho, permitindo que astronautas e engenheiros planejem suas atividades com um maior conhecimento das condições acústicas de Marte, reduzindo riscos e melhorando a comunicação e a navegação nas missões terrestres do planeta.
O som é diferente em Marte
Os cientistas realizaram uma investigação detalhada sobre como o som se comporta em diferentes momentos e locais em Marte, revelando resultados que contrastaram com os observados na Terra.
Equipado com diversos microfones, o rover Perseverance da NASA está captando mais do que apenas dados sobre a composição de solo marciano. Esses microfones também registram uma ampla gama de sons adicionais, incluindo os ruídos característicos produzidos pelos redemoinhos de poeira que percorrem a superfície do planeta.
As gravações obtidas até o momento indicam que o comportamento do som em Marte é bastante distinto. Por exemplo, sons com frequências abaixo de 240 hertz – que envolvem aproximadamente ao dó central de um piano – propagam-se cerca de 10 metros por segundo mais lentamente do que sons de frequências mais altas.
Essa característica é causada pela composição da atmosfera marciana, que é composta por 95% de dióxido de carbono, um gás que absorve parte da energia sonora em frequências baixas.
Se essas propriedades acústicas não forem completamente compreendidas, podem surgir problemas significativos nas comunicações durante futuras missões a Marte, especialmente nas que envolvem tripulações humanas.
Velocidade e atenuação
A partir dessas primeiras descobertas, uma equipe de cientistas de universidades francesas e norte-americanas resolveu investigar a velocidade do som e sua atenuação; ou seja, a tendência do som em diminuir de intensidade conforme a distância nos primeiros 20 metros da atmosfera de Marte.
Desse modo, a equipe reuniu dados de diferentes parâmetros, como pressão atmosférica, temperatura e composição química, em várias regiões de Marte utilizando uma base de dados climáticos do planeta. Alterações nessas configurações podem influenciar a propagação das ondas sonoras, tornando esses fatores relevantes para prever as propriedades do som.
Os cientistas calcularam a velocidade e a atenuação do som em diversos períodos do ano marciano, que duram cerca de 687 dias terrestres, e em diferentes pontos da paisagem, incluindo picos e vales montanhosos.
Nas regiões polares, por exemplo, as temperaturas ao meio dia podem variar em até 60 graus Celsius e os níveis de dióxido de carbono podem variar em 30% ao longo das estações.
Descobertas interessantes
Uma das contribuições mais interessantes dos resultados apresentados foi que a poeira marciana não parece influenciar significativamente na propagação do som. Os autores compararam essa observação com a situação na Terra, explicando que, assim como uma tempestade de poeira terrestre não impediria uma pessoa de ouvir aviões decolando de um aeroporto, a poeira em Marte também não obstrui a transmissão sonora.
Os pesquisadores também observaram que a variação da velocidade do som em relação à temperatura é bastante semelhante à encontrada na Terra, mudando cerca de 0,5 metros por segundo para cada grau Celsius de variação na temperatura.
No entanto, ao contrário da Terra, a velocidade e a atenuação do som em Marte são fortemente influenciadas pelos níveis de dióxido de carbono na atmosfera. Ademais, embora a velocidade do som aumente de forma acentuada ao redor de 240 hertz, a magnitude dessa mudança é menos evidente em temperaturas mais baixas do que em temperaturas mais altas.