Para nós, humanos, a coprofagia é uma ideia absurdamente nojenta. Contudo, centenas de espécies se aproveitam das fezes de outros animais para complementar a sua dieta. Escaravelhos, aliás, vivem boa parte da vida a procura de fezes. Ao achar os excrementos, um casal de escaravelhos forma, então, uma bola de fezes maior que o próprio inseto. Após acharem um lugar tranquilo, o casal colocará os ovos dentro da bola de fezes e os filhotes se alimentarão dela. Todavia, há um exemplo de coprofagia na natureza muito mais próximo dos humanos: nossos companheiros evolutivos, os cães.
Se você tem ou já teve um cachorro, pode ter reparado esse comportamento. O bicho dá uma volta no gramado e depois de alguns minutos você percebe que ele está comendo algo estranho. Nesse ponto já era tarde demais, e o cãozinho já tinha satisfeito seus desejos alimentares – bizarros para nós. Acontece que podem haver diversos motivos, inclusive raízes evolutivas, para explicar o porquê de seu cão comer cocô de outros animais, ou dele mesmo. Estudos indicam que esse comportamento pode estar associado ao humor do animal, bem como a deficiências nutricionais e mesmo parasitas.
Apesar desses motivos, inúmeras pesquisas mostram como a coprofagia está envolvida diretamente com a evolução e domesticação dos cães. Acontece que as fezes são, por mais estranho que pareça, uma fonte bastante rica em proteína. Alguns estudos mostram, assim, que cães de rua podem basear até 20% da sua dieta em fezes. Evolutivamente, os números fazem sentido. Isso porque os cães podem ter se aproveitado desse alimento valioso durante os primeiros estágios da domesticação. Essa característica acabou passando para os descendentes da espécie, ou seja, nossos vira-lata caramelo.
Comer fezes faz mal para o cãozinho?
Tudo bem – você deve estar pensando – mas comer fezes não me parece exatamente algo saudável. E de fato não é. Em um mundo muito diferente, onde caçadores-coletores estavam dominando o planeta, as fezes podem ter ajudado os primeiros cães a não morrer de fome e mesmo a curar doenças. Contudo, devido à estrutura do saneamento no mundo, as fezes hoje acabam causando diversos problemas para o cão. Os principais deles, claro, são doenças no sistema digestório.
Contudo, eventualmente a coprofagia pode acontecer, mesmo com cães domésticos. De forma geral, isso não vai causar grandes problemas. No entanto, vale a pena ter atenção caso esse comportamento esteja ficando exagerado. Como dito inicialmente, comer fezes pode ser o sintoma de uma problema psicológico do cão, como estresse ou ansiedade. Ademais, a coprofagia pode indicar a presença de vermes que estejam causando dores ou problemas para o bicho. Nesse caso, o ideal é consultar um veterinário.
Vale ressaltar, por fim, a importância da domesticação quanto à coprofagia. Diversos estudos mostram que lobos e cães selvagens não consomem fezes humanas e raramente de outros animais. Isso reforça a ideia de que os cães aprenderam a se aproveitar desse recurso ao longo dos possíveis 40.000 anos de domesticação. De uma forma ou de outra, parece ter funcionado para eles, afinal existem mais de 1 bilhão de cães no mundo – contra 300.000 lobos.