Carne dada por humanos influenciou a domesticação dos cães

Mateus Marchetto
Estudos indicam que a domesticação dos cães pode ter seguido um rumo incomum na evolução. (WikiImages/Pixabay)

De forma geral, acredita-se hoje que a domesticação dos cães pode ter começado em algum momento entre 20 e 40 mil anos atrás. Há evidências de que há 11.000 anos os cães já eram companheiros fiéis das comunidades de seres humanos ao redor do mundo. Contudo, um novo estudo publicado no dia 07 de janeiro mostrou que esse processo de domesticação pode ter tido motivos um pouco diferentes do que se acreditava até então. Por conseguinte, tudo depende, segundo os autores, das necessidades básicas de alimentação de seres humanos e lobos/cães pré-históricos.

siberia 63182 1920
WikiImages/Pixabay

De acordo com o estudo, humanos e lobos não poderiam naturalmente viver em paz, pois ambos são espécies carnívoras que iriam competir muito pelo alimento. Assim, humanos iriam acabar combatendo lobos, e vice-versa. Entretanto, os cientistas demonstraram que as duas espécies podem ter se unido para caçar, e cada uma delas se aproveitava de uma parte específica da caça. Isso porque durante invernos mais rigorosos os vegetais ficavam mais escassos para os Homo sapiens. Contudo, devido a nossos ancestrais herbívoros, os humanos não conseguem viver bem se alimentando apenas de proteína. Isso fez com que os sapiens buscassem certas partes mais gordurosas da caça, deixando grandes quantidades de proteína para os lobos. Esses caninos, por sua vez, podem facilmente consumir proteínas em quantidades maiores.

Dessa forma, ao longo de milhares de anos, os seres humanos e lobos podem ter coexistido pacificamente. Isso seria, aliás, incomum para outras espécies e deve ter acontecido poucas vezes ao longo da história, justamente por causa da competição pelo alimento. De qualquer forma, tendo comida para lobos e humanos, ambos acabaram ficando mais próximos e a domesticação pode ter ocorrido ao longo desse processo.

O caminho incerto da domesticação dos cães

Atualmente há duas teorias principais para a domesticação dos cães. A primeira, mais improvável, diz que os H. sapiens ativamente domesticaram os cães. Ou seja, as comunidades de caçadores-coletores treinaram lobos mais dóceis ou abandonados para caçar junto com eles. Isso é pouco provável de ter acontecido pois levaria muito tempo até que um lobo adquirisse hábitos e qualidades específicas para de fato ajudar na caça. A segunda teoria diz que os assentamentos humanos acabavam deixando restos de comida nos arredores do acampamento, após uma caça. Esses restos atraíam, então, os lobos. Os caninos, por sua vez, se acostumaram com essa fonte rica de alimentos e passaram a ficar cada vez mais próximos dos humanos.

wolf 2826741 1920
Christel SAGNIEZ/Pixabay

O estudo mostra que entre 27.000 e 40.000 anos houve uma diminuição drástica da cobertura vegetal do norte da Europa e da Ásia. Isso pode ter forçado as populações de humanos a caçar mais ativamente. Vale lembrar que a maior parte do alimento de caçadores-coletores vinha de plantas de forma geral, complementado com a caça de animais. Contudo, o encurtamento da quantidade de vegetais fez os humanos consumirem mais alimentos de origem animal. Isso é um problema pois os seres humanos apenas retiram cerca de 20% da sua energia de proteínas. O consumo exagerado, portanto, pode causar diversas doenças. Então a carne dos animais, em si, ficava para os lobos, enquanto partes mais gordurosas acabavam com os caçadores. Uma boa forma de começar uma parceria de 40.000 anos de idade.

O artigo está disponível no periódico Scientific Reports.

Compartilhar