Pesquisadores brasileiros desenvolveram um novo modelo capaz de prever o crescimento de árvores nativas da Mata Atlântica, acelerando seu processo de maturidade para suprir as demandas da indústria madeireira. Este avanço vem em um momento crucial, dado o compromisso do Brasil de restaurar grandes áreas de floresta nativa, um desafio intensificado pela necessidade de informações sobre o desenvolvimento das espécies e a extensão efetiva de recuperação das florestas. A pesquisa, publicada na revista Perspectives in Ecology and Conservation, traz esperança para iniciativas de restauração florestal e abre novas possibilidades para a geração de benefícios econômicos e ambientais a longo prazo.
A aplicação de métodos silviculturais inovadores propostos pelo estudo promete elevar a produtividade e rentabilidade dos projetos de restauração florestal. Esses métodos envolvem a seleção criteriosa de espécies nativas e modelos de crescimento que otimizam o manejo e o calendário de colheita. Sob a orientação experiente dos pesquisadores Pedro Medrado Krainovic e sua equipe, o modelo proposto não só reduz o tempo de corte, mas também aumenta o rendimento das árvores, demonstrando uma maneira efetiva de aliar preservação ao desenvolvimento sustentável.
A Mata Atlântica, reconhecida pela ONU como um dos principais exemplos globais em restauração, ainda é o ecossistema brasileiro mais afetado pela perda de vegetação nativa. A extensão original desse bioma no Brasil era de aproximadamente 140 milhões de hectares, dos quais somente 24% mantêm cobertura vegetal. Apenas 12% dessa vegetação é de florestas preservadas, o que corresponde a cerca de 16,3 milhões de hectares, de acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica.
A luta contra o desmatamento vem mostrando sinais de progresso, com uma redução de 42% na devastação de janeiro a maio de 2023, comparado ao mesmo período de 2022. Isso representa uma queda de 12.166 hectares para 7.088 hectares devastados. As iniciativas de restauração desempenham um papel crucial nessa mudança, alinhadas com a Década da Restauração de Ecossistemas da ONU, que vai até 2030, um período dedicado para a proteção e reabilitação dos ecossistemas por todo o planeta, favorecendo a humanidade e a natureza.
Segundo Krainovic, a restauração deve ser embasada em dados concretos que orientem o uso do solo de maneira benéfica, apoiando as políticas públicas e a tomada de decisões informadas. Foi destacado que o presente artigo disponibiliza informações valiosas, inclusive uma lista de espécies que podem auxiliar os proprietários de terras a promover a restauração florestal com um enfoque econômico, trazendo vantagens múltiplas, como a restauração de serviços ecossistêmicos em áreas específicas.
Os achados desta pesquisa contribuirão para o programa Refloresta-SP, liderado pela Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, cuja finalidade é promover a restauração ecológica e recuperar áreas degradadas, além de estabelecer florestas multifuncionais e sistemas agroflorestais.
Com sua experiência de doze anos na Amazônia, Krainovic colaborou em projetos de recuperação usando espécies arbóreas de potencial econômico e envolveu-se nas cadeias produtivas de insumos florestais não madeireiros, suprindo a indústria de cosméticos. Tais produtos incluem sementes, óleos essenciais e manteigas. Krainovic ressalta a importância de sua experiência prática e o conhecimento adquirido na interação entre os negócios, as comunidades tradicionais e o âmbito acadêmico.
Os esforços para restauração florestal no Estado de São Paulo envolvem períodos de crescimento variáveis para conjunto diversificado de espécies nativas. A análise desses períodos visa melhorar a compreensão das práticas de manejo e otimização da colheita madeireira. No estudo, os cientistas avaliaram o crescimento de dez espécies arbóreas de interesse comercial que são geralmente encontradas em tais áreas de restauração.
As espécies, que variam tanto em densidade quanto em história econômica, incluem o guatambu, o jequitibá-rosa, o cedro-rosa, o araribá, entre outras. Todas possuem relevância ecológica e econômica, mas enfrentam restrições legais devido ao risco de extinção, especialmente na Mata Atlântica e no Cerrado. No entanto, ainda é permitida a exploração de algumas, como o jatobá, em outras regiões como a Amazônia.
Modelos de crescimento foram estabelecidos para cada uma das dez espécies, baseados nos dados recolhidos em áreas de plantio de várias idades. O método Growth-Oriented Logging (GOL) foi utilizado para determinar critérios técnicos de manejo florestal. Um dos cenários considerados, denominado “otimizado”, procura aumentar a produtividade florestal mediante práticas de manejo direcionadas.
Neste cenário, busca-se intensificar a produtividade, classificando as espécies em categorias de crescimento: rápido, intermediário e lento – com tempos variáveis para o atingimento de um diâmetro significativo para a colheita. O cenário otimizado apontou uma possível redução no tempo de colheita de até 25%, o que poderia antecipar em média 13 anos a idade ideal para o corte das árvores.
Alguns resultados do estudo destacam nuances importantes, como o caso do cedro-rosa, que apesar de antecipar a idade de colheita, apresentou uma redução considerável na área basal por árvore. Em contrapartida, espécies como jequitibá-rosa e jatobá mostraram um aumento significativo na área basal, apesar de terem um período prolongado até a colheita.
Dentre as dez espécies analisadas, nove alcançaram o diâmetro de 35 centímetros antes dos 60 anos. A exceção se fez ao guarantã, que, por sua alta densidade de madeira, apresentou um ciclo de crescimento mais longo.
As implicações dessas descobertas são valiosas para a elaboração de estratégias de gestão e exploração sustentável das florestas. Essa análise aprofundada não somente oferece um panorama dos cronogramas de crescimento, mas também destaca o potencial das práticas de manejo otimizado, reforçando o papel vital da silvicultura na conservação ambiental e desenvolvimento econômico.