A Antártida está ficando verde devido às altas temperaturas

Dominic Albuquerque

Temperaturas crescentes na paisagem severa do continente gelado indicam que a Antártida está ficando verde. Duas espécies nativas de plantas estão começando a florescer e se espalhar pela região, num crescimento veloz e surpreendente.

Entre 2009 e 2019, a cobertura aumentou mais do que nos últimos 50 anos combinados, consequência das temperaturas progressivas do ar e diminuição das populações de focas, reportou Phoebe Weston.

O estudo, publicado semana passada na Current Biology, é o pioneiro em demonstrar como o aquecimento climático afeta ecossistemas polares.

Os cientistas focaram os estudos em duas espécies na Ilha Signy, comparando observações recentes com registros que apontam o crescimento das plantas desde 1960, como apontado na Gizmodo.

Como a Antártida está ficando verde

A análise de como a Antártida está ficando verde foi feita através do estudo das plantas nativas da região.

A erva-doce antártica (Deschampsia Antactica) e a erva-pérola antártica (Colobanthus quitensis) são as únicas espécies de plantas com flores no continente meridional. Elas conseguem suportar a temperatura rígida do continente e realizar fotossíntese em temperaturas abaixo de zero, tudo isso enquanto estão cobertas de neve, contou Nicoletta Cannone, uma ecologista na Universidade de Insubria e autora líder do estudo.

“A Antártida está agindo como um canário numa mina de carvão”, comentou.

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O aumento da erva-doce antártica na Ilha Signy é incentivado por verões quentes e redução de focas, que pisoteiam as plantas. Fotografia: Francesco Malfasi

Os cientistas do estudo dizem que o que foi reportado na Ilha Signy é indicativo de processos ocorrendo na região de maneira geral. “Nossos achados sustentam a hipótese de que aquecimentos futuros vão engatilhar mudanças significativas nesses frágeis ecossistemas antárticos”, escreveram os pesquisadores.

A disseminação dessas espécies irá causar mudanças na acidez do solo, nas bactérias e fungos presentes, e em como a matéria orgânica se decompõe. Alterações na química do solo, assim como degradação do permafrost (solo congelado) irão desencadear um efeito em cascata de outras mudanças, com “consequências em todos os componentes dos ecossistemas terrestres”, disse Cannone.

Anteriormente, se pensava que a Antártida estava imune ao aquecimento global. Contudo, estudos mostraram que o continente tem se aquecido três vezes mais rápido do que o resto do mundo nas últimas três décadas.

O continente também tem perdido uma quantidade recorde de gelo. Entre 2008 e 2015, a perda cresceu para 36 bilhões de galões por ano, segundo a Gizmodo.

“Os ecossistemas terrestres da Antártida respondem rapidamente a essas absorções climáticas. Eu esperava um crescimento dessas plantas, mas não nessa magnitude, estamos recebendo múltiplas evidências de que uma mudança grande está ocorrendo na Antártida”, acrescentou Cannone.

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Os cientistas avisam que a explosão de espécies nativas como a erva-doce antártica que há condições prontas para a chegada de espécies invasivas. Fotografia: Nicoletta Cannone

Na última década, as temperaturas de verão cresceram de 0.02 °C a 0.27 °C a cada ano, apesar do resfriamento forte registrado em 2012.

Ainda que consigam reproduzir rapidamente e em condições climáticas severas, as plantas nativas não são boas em competir com plantas não-nativas do continente. E mesmo que o aquecimento possa beneficiar algumas espécies nativas em isolamento, ele aumenta o risco do estabelecimento de espécies não-nativas, que poderiam superar as anteriores e desencadear uma perda irreversível de vida natural, avisam os cientistas.

O Dr. Kevin Newsham, ecologista terrestre da British Antarctic Survey, não envolvido no estudo, disse que “o estudo mostra que mais aumentos em populações dessas plantas podem ser esperados ao passo em que a Antártida se aquece nas décadas futuras, levando a um esverdear da região, mas também pode haver um risco crescente aos ecossistemas onde há estabelecimento de espécies alienígenas de plantas”.

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