Mortalidade da Peste Negra não atingiu toda Europa igualmente

Letícia Silva Jordão
Imagem: Mariusz Lamentowicz

Por mais que os historiadores mensurem que a mortalidade da Peste Negra na Europa atingiu cerca de 50% da população, um novo estudo da Nature Ecology and Evolution mostrou que a pandemia não afetou todas as regiões igualmente.

O estudo fez uma análise que demonstra em dados os impactos demográficos que a pandemia da Peste Negra causou que até agora haviam sido pouco explorados.

Orientado por uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo grupo Paleo-Ciência e História do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, o estudo analisou amostras de pólen de mais de 200 locais de 19 países europeus para definir como a atividade agrícola e a paisagem mudou em 100 anos antes e depois da pandemia, uma data entre 1250 e 1450.

Agricultura mostra o nível da mortalidade da Peste Negra

Para realizar a pesquisa, foi feito um estudo de palinologia, que analisa os esporos e pólen das plantas fósseis, considerado como uma ferramenta poderosa para descobrir os impactos demográficos da Peste Negra.

Junto da palinologia, foi utilizado uma nova abordagem chamada paleoecologia de big data (BDP), onde os pesquisadores analisaram 1.634 amostras de pólens originadas de vários locais da europa para verificar quais plantas estavam crescendo e a sua quantidade.

Essa análise poderia determinar se as atividades agrícolas de cada região continuaram ou pararam, sendo que caso tivessem parados, o crescimento de plantas selvagens teria tido um aumento em relação às demais que costumamos cultivar.

Como resultado, o estudo mostrou que a mortalidade da Peste Negra teve uma variação ampla, onde algumas áreas sofreram mais e outras tiveram um grau mais leve de devastação da pandemia.

O estudo apontou que as maiores taxas de mortalidade ocorreram em países como Escandinávia, França, sudoeste da Alemanha, Grécia e Itália central, pois foi onde teve uma queda maior na agricultura local.

Enquanto isso, regiões como parte da Europa Central e Oriental e partes da Europa Ocidental, incluindo Irlanda e Península Ibérica mostraram que a agricultura local teve um crescimento ininterrupto, mostrando assim que a mortalidade da Peste Negra não afetou muito.

A pesquisadora Alessia Masi da Universidade de Roma “La Sapienza” disse que “a variabilidade significativa na mortalidade que nossa abordagem BDP identifica ainda precisa ser explicada, mas os contextos culturais, demográficos, econômicos, ambientais e sociais locais teriam influenciado a prevalência, morbidade e mortalidade de Y. pestis”.

A importância das regiões rurais para o estudo

Um dos motivos que faz com que esse estudo seja surpreendente é que muitas fontes quantitativas que têm sido utilizadas no desenvolvimento de estudos sobre a Peste Negra, são derivados das áreas urbanas, deixando muitos registros de áreas rurais de fora, mesmo elas representando mais de 75% da população de todas as regiões europeias em meados do século XIV.

“Não existe um modelo único de ‘pandemia’ ou ‘surto de peste’ que possa ser aplicado a qualquer lugar a qualquer momento, independentemente do contexto”, diz Adam Izdebski, líder do grupo Paleo-Ciência e História. “As pandemias são fenômenos complexos que têm histórias regionais e locais. Vimos isso com o COVID-19, agora mostramos com a Peste Negra.”A diferença da mortalidade da Peste Negra em diferentes locais da Europa mostram que a pandemia é dinâmica, e possuía fatores culturais, econômicos, climáticos e ecológicos mediando sua disseminação pelo continente.

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