Rochas lunares sugerem que a água da Terra pode não ter sido trazida por outros corpos

Jônatas Ribeiro

De onde vem a água da Terra? Pode parecer uma pergunta simples. Afinal, a água ocupa a maior parte do território de nosso planeta e é fundamental para os ecossistemas e a existência da vida por aqui. Sua presença abundante na Terra em forma líquida constitui uma característica tão marcante que nos distingue bastante de outros planetas. Tanto é que, há muito tempo, procuramos traços de água líquida na Lua e em Marte, seja no presente ou no passado desses corpos.

As origens da água na Terra, contudo, são um tema aberto de estudo, ao qual se dedicam vários cientistas, atacando o problema por diferentes frentes e pontos de vista. Há uma perspectiva em voga, contudo. A água poderia ser sido trazida até nós por outros corpos rochosos em colisão com a Terra. A composição da nuvem primordial de gás que gerou o Sistema Solar variava com a distância à estrela, assim como a temperatura.

Assim, o gelo teria se formado nas regiões mais distantes. E o hidrogênio em nossas proximidades deveria ser encontrado apenas em forma gasosa, em quantidades bem menores do que se vê em Júpiter e Saturno, por exemplo. Como a nebulosa primordial se desfez, contudo, entende-se que a Terra não deve ter absorvido muito do elemento. Assim, prevalece o cenário de que a água, na verdade, veio de fora daqui.

Água extraterrestre

meteoro e terra
Imagem: Pixabay

Há dois cenários principais para a hipótese dos impactos de corpos externos terem trazido a água para a Terra. No primeiro, o planeta nasce seco e herda a água a partir da aproximação de cometas e meteoritos primitivos. Já no segundo, a Terra se forma com abundâncias químicas voláteis, mais parecidas com o que se vê em média no Sistema Solar. Uma grande quantidade desses elementos, contudo, é perdida durante o impacto gigante que deve ter formado a Lua, envolvendo o asteroide batizado de Theia.

Foi esse mistério que os cientistas trataram de abordar, a partir de rochas coletadas durante as missões Apollo. Além de terem levado o homem à Lua pela primeira vez, a série histórica de missões espaciais da NASA foi responsável por trazer muitos fragmentos lunares para cá para serem estudados por astrônomos, geólogos e geofísicos. A pesquisa focou em estudar dois núcleos radioativos em particular: o rubídio-87 e o estrôncio-87, produto direto do decaimento do primeiro por radiação beta, isto é, a transformação de um elemento em outro com emissão de um elétron, mas preservando a carga do núcleo.

Estudos radioativos

impacto entre terra e theia
Imagem: NASA/JPL-Caltech

O que os pesquisadores encontraram foi que os níveis de estrôncio-87 eram relativamente baixos em rochas retiradas de planaltos da Lua, que cristalizaram há 4.35 bilhões de anos. Isso sugere, por sua vez, que os níveis de rubídio-87 eram mais baixos na Terra e na Lua quando se formaram. Assim, a proto-Terra e a grande rocha que originou a formação da Lua podem não ter tido tanto material radioativo como se acreditava, o que leva a pensar que ambos se formaram mais tarde na história do Sistema Solar. Isto é, quando a forte radiação solar já deveria ter interagido com os núcleos voláteis.

O estudo também registra composições similares de isótopos (quando o núcleo atômico tem o mesmo número de prótons do núcleo mais estável, mas com massa diferente) de oxigênio, titânio e cromo. Essa observação contradiz a maioria dos modelos de formação, que implicam em abundâncias diferentes.

Além de novas possibilidades sobre os mistérios do passado da água na Terra, os dados são importantes para modelagem do histórico da Terra e da Lua em geral. Mais precisamente, eles ajudam a modelar o impacto entre Theia e o nosso planeta. O estudo foi publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.

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