Afinal, de onde vem a água da Terra?

Jônatas Ribeiro
(Universe Today)

É difícil imaginar o planeta Terra sem oceanos, lagos e rios. Afinal, 70% de nossa superfície está coberta por eles. Essa não é a história, contudo, de nossos vizinhos siderais. As toneladas de água que cobrem nosso planeta não são uma realidade em Mercúrio, Vênus e Marte. E isso não é uma coincidência. A proximidade desses planetas ao Sol dificultou muito, na sua origem, a existência da substância em forma líquida. O mesmo vale, em tese, para a Terra.

O consenso na ciência era de que a Terra se formou seca. O mesmo valeria para os outros planetas rochosos. Na verdade, todos os planetas se formaram da mesma nuvem de gás, a nebulosa solar. A composição da nuvem variava com a distância à estrela, assim como a temperatura. Assim, gelo teria se formado apenas nas regiões mais distantes. De todo modo, na Terra, o hidrogênio estaria presente em forma gasosa. A nebulosa, contudo, não viveu por muito tempo e a Terra não absorveu o suficiente do elemento. A solução, portanto, era de que outros corpos trouxeram nossa água para cá.

A água nos cometas e asteroides

A última passagem do famoso cometa Halley foi em 1986. Estudando o cometa, pesquisadores notaram que seu conteúdo de água pesada era maior do que na vizinhança da Terra. A água pesada, diferentemente da água comum, é formada por dois deutérios em vez de dois hidrogênios. Sua fórmula é D2O. O deutério, por sua vez, é um átomo composto por um próton e um nêutron. Sua massa é maior, portanto, que a do hidrogênio, com apenas um próton. Observando a maior razão entre água pesada e água comum (D/H) no Halley, surge a ideia de que nossa água veio dos cometas. A teoria também faz sentido considerando a origem dos cometas que passam por nós: a nuvem de Oort, que fica no limite do sistema solar.

passagem de cometa
Imagem: NASA/ESA/Hubble Heritage

Observando mais cometas, porém, as coisas não ficaram mais fáceis para os cientistas. A razão D/H era alta demais para ser a responsável pela água na Terra. Surge um novo candidato: asteroides. Essas gigantes rochas espaciais não são formadas principalmente de gelo, como os cometas, mas carregam água em seus minerais. No sistema solar, estão concentradas principalmente no cinturão de asteroides próximo a Júpiter. E diferentemente da maioria dos cometas, sua quantidade de D2O é muito mais semelhante à da Terra. Os asteroides, assim, se tornaram os principais candidatos a responsáveis pela água no nosso planeta.

Novas perspectivas

meteorito condrito
Imagem: Wikimedia Commons

A partir de fragmentos dos asteroides também vêm rochas menores que chegam até aqui, os meteoritos. Certos tipos, os condritos, não se alteraram muito desde sua formação. Alguns se formaram longe do Sol e são importantes para a hipótese da água na Terra ter sido trazida por rochas. Outros se formaram na nossa vizinhança, mais semelhantes à Terra. Foram essas rochas supostamente secas que um estudo recente publicado na revista Science analisou. Mesmo tendo se confirmado que elas não carregam minerais ricos em água, se observou uma proporção de hidrogênio parecida com a da Terra.

Outro trabalho recente analisa a razão D/H a partir de rochas extraídas do subterrâneo de antigas formações geológicas. Os pesquisadores encontraram um valor menor do que o esperado considerando a hipótese da água ter sido trazida por objetos distantes. Ou seja, seria outro indício contra a teoria mais bem estabelecida. É bom ressaltar que mais resultados são necessários para corroborar essas novas hipóteses, contudo. De qualquer forma, é interessante saber que a história da água na Terra pode ser bem diferente da que conhecíamos.

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