Nuvens de Vênus podem possibilitar processos de fotossíntese

Jônatas Ribeiro
Nuvens de Vênus. Imagem: ESA

Vênus e Marte, os planetas mais próximos da Terra, continuam sendo relevantes. E mesmo em tempos de descoberta de novos exoplanetas, isto é, planetas fora do Sistema Solar. A respeito desses, a grande motivação, muitas vezes, é a busca por vida fora do nosso planeta. Ou melhor, pelas condições apropriadas para a vida. Esse campo da astronomia tem crescido exponencialmente nos últimos tempos. Seu nome é astrobiologia. Muito popularizada, aliás, por um de seus pioneiros. Isto é, o grande astrônomo e divulgador científico Carl Sagan.

Um dos esforços mais conhecidos de Sagan, além de sua famosa série Cosmos e seus livros, foi sua participação no SETI. Esse consiste num projeto de busca por vida inteligente no espaço através da procura de sinais de rádio. Além disso, contudo, foi um cientista reverenciado com muitas publicações de impacto. Em meio à sua grande relevância também em outros campos, seus trabalhos sobre atmosferas planetárias podem ser esquecidos fora da academia. Mas Sagan, mesmo conhecido por olhar bastante para fora do Sistema Solar, também falava muito dos nossos vizinhos mais próximos. Inclusive, sobre suas possibilidades de vida. E novas pesquisas continuam seguindo seu legado e nos surpreendendo.

O inferno de Vênus

Entre Vênus e Marte, é o planeta vermelho que tem ganhado boa parte dos holofotes recentemente. Suas frias temperaturas e atmosferas pouco densas possibilitam observações com detalhes e exploração do território no próprio local. Assim, ganhamos muitas informações importantes sobre as condições e a história do planeta. Além de evidências importantes sobre possíveis micro-organismos no passado de Marte (apesar de não totalmente conclusivas).

arte sobre atmosfera de vênus
Imagem: ESA

Vênus, por outro lado, apresenta um cenário diferente. Composta principalmente de dióxido de carbono (CO2), a atmosfera do planeta é bastante surpreendente para os nossos padrões. Sua temperatura de superfície, por exemplo, é de mais de 450 °C. A pressão também equivale à mesma de 900 m abaixo do nível do mar em nosso planeta. Antes desse cenário infernal, contudo, as coisas podem ter mais familiares para nós.

Isso porque especula-se que há bilhões de anos, Vênus pode ter sido mais parecido com a Terra. A evaporação de sua água, bem como o aumento nos níveis de gases do efeito estufa (como o próprio CO2), pode ter causado um aquecimento global fora de controle. A história é análoga, aliás, ao que estamos vendo hoje na Terra. Isso não quer dizer que a pior versão de nosso futuro será exatamente como Vênus. Muitas das condições são diferentes. Porém, estudar o planeta vizinho pode nos ajudar muito a prevenir uma catástrofe por aqui.

A saída está no alto

Nem todo o planeta, contudo, é tão complicado. A pouco mais de 50 km da superfície, a temperatura e pressão da atmosfera de Vênus são bastante parecidas com as da Terra. Essa região, aliás, chega a ser mais próxima do nosso planeta que Marte. Além disso, o ar que respiramos, composto em sua maioria de oxigênio e nitrogênio, tende a ficar em alturas elevadas por lá. Assim, é fácil entender por quê as nuvens de Vênus poderiam ser importantes para os interessados em explorar o planeta. E é nessa região que uma importante pesquisa recente foca.

Vênus, além de tudo, conta com nuvens de ácido sulfúrico na atmosfera. A condição soa horrível para nossos ouvidos, mas tem suas vantagens. Por exemplo, absorver boa parte da radiação ultravioleta do Sol. Assim como, aliás, nossa camada de ozônio aqui na Terra. No caso de Vênus, de maneira ainda mais eficiente. Faltava, porém, que Vênus tivesse água suficiente para o desenvolvimento da vida. O estudo dos pesquisadores da Universidade Politécnica do Estado da Califórnia sugere algo novo, contudo. Que parte da atmosfera também é composta de materiais neutralizados, como bissulfato de amônio. E esses podem ser mais propícios à existência de água do que antes se imaginava.

vênus e sol
Imagem: NASA

Além disso, a equipe descobriu que a radiação térmica vindo das camadas inferiores do planeta seria suficiente para garantir a fotossíntese. E até mesmo quando o lado correspondente do planeta estivesse oposto ao Sol. A energia do calor, apesar de muito menor do que a radiação solar, seria similar à de lugares próximos a fontes hidrotermais com presença de vida na Terra. Ou seja, por todas essas condições, as nuvens de Vênus, ou ao menos as mais baixas ou médias, são cada vez mais atraentes para a astrobiologia.

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