9 descobertas incríveis realizadas no Grand Canyon

Milena Elísios
Imagem: Shutterstock

Se um dia você tiver a oportunidade de visitar o Grand Canyon, você vai se deparar não apenas com a imensidão de sua beleza natural, mas também com uma cápsula do tempo geológica que guarda segredos do passado do planeta Terra. Além das paisagens de tirar o fôlego que atraem visitantes de todo o mundo, as descobertas arqueológicas e paleontológicas revelam histórias ocultas no famoso deserto do Arizona, nos Estados Unidos.

Os tesouros enterrados nas camadas do Grand Canyon contam uma história que vai além do que os olhos podem ver. Desde pegadas fossilizadas que remontam a milhões de anos até evidências de civilizações antigas, cada descoberta é uma peça de um quebra-cabeça complexo e fascinante sobre a história do nosso planeta. Separamos 9 descobertas para você ter a noção do que estamos falando.

1. Grande Inconformidade

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A Grande Inconformidade (linha amarela) é um dos maiores mistérios geológicos do mundo. Imagem: Jonathan R. Hendricks

Ao explorar o Grand Canyon, você se depara com um fenômeno geológico fascinante conhecido como a Grande Inconformidade. Imagine olhar para as paredes do cânion e perceber que as camadas de rocha contam uma história incompleta. Entre o arenito Tapeats e as rochas metamórficas do Desfiladeiro de Granito, há um intervalo significativo no registro geológico – aproximadamente um bilhão de anos de história da Terra simplesmente desapareceram.

Para geólogos, a mudança na superfície das rochas é uma clara indicação de que camadas inteiras estão ausentes. As razões para essa ausência são complexas: pode ser que as rochas nunca tenham se formado ou que não tenham sido preservadas. Mais intrigante ainda é o fato de que esse desaparecimento não se limita ao Grand Canyon, mas é observado em escala global. Múltiplas teorias tentam explicar esse enigma, mas até agora, ninguém conseguiu determinar exatamente o que foi perdido ou para onde foi.

2. O Arenito Coconino

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Imagem: Shutterstock

Ao explorar as profundezas do Canyon do Colorado, você se depara com camadas de um intrigante arenito claro, conhecido como Arenito Coconino. Esta formação geológica, com sua tonalidade de clara e textura finamente granulada, salta aos olhos entre as íngremes paredes do Grand Canyon. Estima-se que suas origens remetam a cerca de 280 milhões de anos, um período geológico onde dunas de areia se cristalizaram e mantiveram-se resilientes ao longo do tempo.

Em suas camadas, vestígios de uma vida ancestral são cuidadosamente preservados; marcas de passos e fósseis se apresentam, não como ossos, mas como registros eternos de movimento, sugerindo a existência de fauna em um ambiente que ainda detém muitos segredos para serem desvendados.

3. Caverna dos Domois

Situada próxima à Horseshoe Mesa, no final da trilha Grandview, a Caverna dos Domois é a única acessível ao público no Grand Canyon. O percurso até a caverna é repleto de paisagens espetaculares e um pouco mais afastado do movimentado centro do parque.

Ao adentrar essa impressionante caverna, você encontrará domos de calcário esculpidos pela erosão ao longo de milhões de anos. Estas estruturas notáveis são fruto do acúmulo de minerais no teto da caverna. O ambiente é silencioso, escuro e seco, proporcionando uma experiência única de privação sensorial. Rusticamente, as paredes guardam assinaturas de visitantes do século XX, mas agora é possível deixar seu nome em um livro de visitas na entrada.

Essa caverna não só é conhecida pelas suas formações calcárias, mas também pela descoberta paleontológica significativa de 2016. Após um colapso de penhasco, um bloco da Formação Manakacha se espalhou por uma das muitas trilhas do parque. Allan Krill, professor de geologia da Noruega, com seus alunos se deparou com este bloco durante uma expedição e observou pegadas fósseis bem preservadas no mesmo. As marcas fossilizadas revelaram que duas espécies animais haviam percorrido aquelas areias há 313 milhões de anos, utilizando um método de locomoção lateral que é característico de vertebrados como os cães e os gatos. O significado dessa descoberta é profundo, um tesouro documentando a longa história da vida dos vertebrados.

4. Pegadas fósseis com 280 Milhões de anos

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Imagem: Shutterstock

Durante uma expedição nas áreas menos acessíveis do Grand Canyon, pesquisadores brasileiros, incluindo os paleontólogos Dr. Heitor Francischini e Dr. Spencer Lucas, realizaram um achado significativo em um bloco de arenito: pegadas fossilizadas de tetrápodes com aproximadamente 280 milhões de anos. Esta descoberta coloca as pegadas entre os registros mais antigos do período pré-dinossauro.

As pegadas foram identificadas como sendo do gênero Ichniotherium, conhecido por ser associado a um grupo de tetrápodes extintos chamados diadectomorfos, com caracterísitcas que remetem tanto aos anfíbios quanto aos répteis. A peculiaridade desse achado no arenito de Coconino é que, pela primeira vez, essas pegadas foram encontradas em um contexto de deserto, diferenciando-se dos ambientes onde geralmente são localizadas.

Embora possa permanecer um mistério qual a espécie exata que deixou essas marcas, elas são uma janela valiosa para a compreensão dos primeiros habitantes dos desertos pré-históricos e suas estratégias de sobrevivência. Essas pegadas também atualizam as informações de artigos científicos sobre o tema desde 1918, contribuindo com novas nuances para a paleontologia global.

5. Figuras entalhadas em galhos

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Imagem: Grand Canyon National Park

Descobertas pela primeira vez em 1933, estas obras de arte pré-históricas datam de 2.000 a 4.000 anos. Sua confecção se dá a partir da dobradura de um único galho, geralmente de salgueiro, para formar figuras de animais, principalmente ovelhas selvagens ou cervos. Algumas podem até se assemelhar a lanças, lançando luz sobre as atividades e a cultura das pessoas que habitaram essa região milênios atrás. Essas figuras já foram encontradas em quinze diferentes cavernas, revelando que sua produção era uma prática amplamente difundida e com grande significado para seus criadores.

6. Painel de pictografia na Gruta de Mallery

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Imagem: Shutterstock

A Gruta de Mallery, batizada em homenagem a Garrick Mallery, um especialista em pictografias norte-americanas do Bureau of American Ethnology, abriga este painel de pictografias notável, além de outros artefatos dos povos Cohonina. Estima-se que esta área remonte a 2000 a.C. e tenha sido um espaço vital para o povo Havasupai, até serem deslocados com a criação do Parque Nacional.

7. Preguiça-gigante de Shasta

Preguiça-gigante de Shasta
Imagem: National Park Service

Entre as notáveis relíquias citadas anteriormente, estão os fósseis da preguiça-gigante de Shasta, um animal extinto que desperta especial interesse por ter alcançado tamanhos surpreendentes, comparáveis até aos dos elefantes. Um achado específico no Grand Canyon revela a existência de um espécime com dimensões semelhantes às de um urso.

A preservação incrível de um crânio, tufos de pelo e quantidades consideráveis de excremento — os quais ainda emitem um cheiro forte após mais de 11 mil anos — foi possibilitada pelo clima seco e estável da Caverna Rampart. Esses vestígios sugerem que o clima e a vegetação atuais ainda seriam propícios para a sobrevivência dessa espécie, levando à hipótese de que a intervenção humana foi provavelmente a causa de sua extinção.

8. Pseudoscorpiões das Cavernas

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Imagem: Shutterstock

Essas criaturas intrigantes têm semelhanças com escorpiões, mas também possuem diferenças marcantes. Adaptados à escuridão total, os pseudoscorpiões não possuem olhos e se defendem com pinças venenosas ao invés de um ferrão na cauda. Existem duas espécies diferentes de pseudoscorpiões identificadas: uma com pernas mais robustas e uma elevação nas pinças, e outra com pinças profundas, distintas das outras espécies conhecidas. Esses seres são predadores de minúsculos invertebrados e medem cerca de 3 cm de comprimento. Foram denominados Hesperochernes bradybaughii e Tuberochernes cohni.

9. Urânio

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Imagem: Sky Water Earth

Descobertas indicam a presença de depósitos de urânio por toda a extensão do Grand Canyon, surpreendendo aqueles que visitam o parque nacional em busca de suas paisagens naturais e não de atividades mineradoras. O Parque Nacional do Grand Canyon abrigou minas de urânio defuntas, como a Orphan Mine, iniciadas na década de 1950. Estas jazidas estão localizadas principalmente em rochas como arenito, silte, argila e em formações geológicas conhecidas como tubos de brecha. Além do parque, sete minas operaram na região, e a Mina Pinyon Plain é conhecida por ameaçar o abastecimento de água da comunidade local.

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