Primeiro exoplaneta fora da Via Láctea pode ter sido encontrado

Jônatas Ribeiro
Imagem: Amanda Smith

Os exoplanetas são uma área em ebulição na astronomia. De fato, eles têm tomado a atenção de muitos cientistas. Isso, em parte, por ser um tema novo, que hoje podemos estudar melhor graças à evolução da tecnologia. Mas também por representarem possibilidades incríveis acerca do que conhecemos sobre o universo. Como, por exemplo, a possibilidade de vida em outros planetas. É verdade, isso não quer dizer que vamos ver alienígenas por nossos telescópios acenando para nós. Contudo, já é um grande avanço perceber que certo planeta recém-descoberto tem condições favoráveis à vida.

E é exatamente isso, as chances de abrigar vida, que estuda a astrobiologia. Esse novo e fascinante campo da ciência ainda tem como um de seus principais idealizadores uma figura conhecida também fora da academia. Isto é, o grande astrônomo, pensador humanista e divulgador científico Carl Sagan. Grande estudioso de atmosferas e geologias de planetas do Sistema Solar, também foi um dos nomes por trás do projeto SETI, voltado à busca por sinais de civilizações extraterrestres.

Sagan não chegou a ver os primeiros planetas fora do Sistema Solar serem descobertos. Certamente, contudo, teria se empolgado com as novas possibilidades. Mesmo que não representem, necessariamente, civilizações avançadas. O fato de acharmos planetas com evidências de vida, ou pelo menos, de que a vida é possível, já é fascinante. E as chances só aumentam com mais e mais exoplanetas sendo descobertos.

Encontrando um exoplaneta

exoplaneta
Imagem: ESO/M. Kornmesser

Não é tarefa fácil encontrar planetas a distâncias tão grandes. Quando falamos em objetos muito longe da Terra, frequentemente falamos de galáxias, nebulosas. Além, claro, de estrelas. Sem essas, aliás, não podemos ter exoplanetas. Afinal, eles estarão naturalmente orbitando uma estrela. O problema é que um planeta sempre terá luz muito mais fraca se comparada à de sua estrela-mãe. No caso do Sol, por exemplo, sua luminosidade é pelo menos um bilhão de vezes maior do que a de qualquer estrela que o orbita. Ou seja, já é difícil por si só detectar um exoplaneta. Para piorar, ainda, a estrela tende a ofuscar a luz do que está em sua volta.

Os astrônomos, assim, recorrem a métodos indiretos para detectar exoplanetas. Um bastante consolidado, por exemplo, é o método da velocidade radial. Ele consiste na medição do desvio das linhas espectrais da estrela (com a decomposição da luz em diversas frequências) conforme ela se move. Esse movimento, por sua vez, é causado pelo próprio planeta que a orbita. Mesmo tendo massa muito menor, sua gravidade ainda assim causa algum distúrbio no movimento da estrela. Outro exemplo é o método de trânsito, onde se mede um declínio na luminosidade de uma estrela por um certo período. Esse tempo consiste na passagem de um exoplaneta em sua frente, bloqueando, assim, parte da luz.

Mais longe do que qualquer outro

exoplaneta em binária de raio-x
Imagem: Chandra X-ray Observatory

Existem, ainda, outras técnicas bem-sucedidas de detecção de exoplanetas. Elas são responsáveis por conhecermos hoje mais de 4000 planetas fora do Sistema Solar. Contudo, todas essas descobertas foram feitas dentro da Via Láctea. E isso não significa que não há planetas em outras galáxias. Mas sim, que nossos métodos não tem precisão suficiente para lidar com objetos tão distantes. Afinal, se detectar um exoplaneta na nossa galáxia já é difícil, era esperado que fosse ainda mais em outras.

Não há, porém, razão para não existirem sistemas planetários em outras galáxias. E o cenário, de fato, pode ter começado a mudar. M51-ULS-1b é o nome do novo candidato a exoplaneta, na Galáxia do Redemoinho. Sua órbita se dá em torno de um sistema binário, M51-ULS-1, a 28 milhões de anos-luz da Terra. Ele é constituído por uma estrela que já colapsou, hoje um buraco negro ou estrela de nêutrons, e uma estrela gigante. A primeira estrela, ainda mais massiva que a segunda, rouba matéria de sua companheira pela gravidade. Durante o processo, o material acretado forma um disco a altas temperaturas que emite raio-x.

Semelhantemente ao método de trânsito, um planeta orbitando o sistema pode acabar bloqueando toda a regão emissora de raios-x. Foi exatamente o que percebeu a equipe de astrônomos de Harvard, liderada por Roseanne Di Stefano, analisando dados do telescópio Chandra da NASA. O objeto, possivelmente, tem o tamanho de Saturno e orbita a uma distância correspondente a 10 vezes a distância da Terra ao Sol. O resultado, publicado na Nature Astronomy, é empolgante, mas outros astrônomos estão céticos, porque muitas coincidências teriam sido necessárias para observá-lo, como um alinhamento perfeito com a nossa linha de visão. De qualquer jeito, só teremos certeza procurando por mais exoplanetas.

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