Fotos extraordinárias capturam a vida dentro de uma gota de água do mar

Daniela Marinho
Os copépodes passam por seis estágios larvais e seis juvenis entre o ovo e a idade adulta. Eles crescem um novo par de pernas em cada estágio. Imagem: Angel Fitor

Fotografia é a arte de registrar os mais variados e importantes acontecimentos; não se trata, assim, apenas de uma técnica de capturas de imagens. Nesse contexto, a primeira fotografia reconhecida foi feita em 1826, pelo francês Joseph Nicéphore Niépce. Desde então, essa forma de reproduzir as imagens do real tem se desenvolvido e gerado cada vez mais fascínio. Como é o caso das fotos extraordinárias que capturaram a vida numa gota de água do mar.

Extremamente belas e encantadoras, as imagens conseguiram registrar os seres minúsculos que existem numa única gota do mar. Com uma super lente de aumento, é possível ver uma vasta gama de plânctons cada vez menores, incluindo crustáceos conhecidos como copépodes.

Fotos capturam vida dentro de uma gota de água

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À esquerda estão copépodes harpacticóides imaturos, distinguíveis por antenas curtas. À direita está um protozoário blindado com um intrincado esqueleto mineral. Imagem: Angel Fitor

Embora muito minúscula, uma gota de água do mar pode abrigar um verdadeiro e complexo mundo oculto. Os copépodes podem ser achados na pequena bolha em cerca de 13.000 espécies conhecidas, desde safiras marinhas azuis cintilantes até vermes de bacalhau em forma de macarrão. Alguns deles vagam livremente, enquanto outros se agarram a plantas ou animais.

Com uma capacidade surreal de adaptabilidade, uma espécie de copépode pode nadar até o útero de um tubarão em gestação e se prender à sua panturrilha.

De acordo com Chad Walter, pesquisador emérito do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, que os estuda há 40 anos, “Os copépodes são os animais mais numerosos do planeta […] As pessoas pensam que são insetos, mas 70% do planeta é coberto por água, e os copépodes habitam tudo isso.”

Copépodes são, por si só, fascinantes

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No sentido horário do canto inferior direito: um copépode calanóide, um anfípode hiperídeo, uma larva de decápode e um pterópode, com mandíbulas na base e um ânus no topo pontiagudo. Imagem: Angel Fitor

Numa dada situação, Walter recebeu uma ligação de uma organização judaica ortodoxa querendo saber se havia pedaços de criaturas flutuando na água da torneira da cidade de Nova York – chegaram à conclusão que sim. O pesquisador afirma que é difícil evitar esses parentes do camarão e da lagosta, uma vez que ele os estudou em todo o mundo, desde o Mar Vermelho até na Antártica.

Desse modo, esses minúsculos invertebrados são encontrados nas fossas oceânicas mais profundas e nos lagos alpinos mais altos, mesmo em musgos úmidos e folhas molhadas. Esse fato comprova que onde quer que exista água, os copépodes têm sucesso.

Fotógrafo que capturou vida numa gota de água

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Angel Fitor

O responsável pelas imagens fascinantes foi o fotógrafo da vida selvagem, o espanhol Angel Fitor. Trabalhando duto por longas semanas, Fitor é formado em biologia marinha, mas passou a maior parte de sua carreira como artista, tirando fotos de criaturas aquáticas, como cavalos-marinhos e tubarões, geralmente praticando snorkel ou mergulho.

No entanto, a curiosidade sobre os organismos que não conseguia ver foi finalmente despertada, ele queria capturar o minúsculo plâncton que flutua com as correntes oceânicas, mas muitas dessas criaturas são muito pequenas para serem fotografadas sem ferramentas científicas apropriadas.

A boa notícia é que o tamanho dos copépodes geralmente varia de 0,2 a 1,7 milímetros de comprimento; ou seja, são grandes o suficiente para serem ampliados usando lentes e equipamentos convencionais. “Imaginei cada gota de água como um aquário”, disse Fitor.

Trabalho cirúrgico

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Uma gota de água pendurada na micropipeta de Angel Fitor contém uma única Sapphirina. Imagem: Angel Fitor

Foram três anos de trabalho cirúrgico para resultar nessas imagens. O fotógrafo pegava um barco no Mar Mediterrâneo e mergulhava para coletar suas amostras de água, geralmente de 30 a 50 pés abaixo da superfície. Então, ele trazia as amostras direto para seu estúdio caseiro na vila costeira de Alicante, ao sul de Valência, na costa leste da Espanha.

Dessa forma, para que fosse possível capturar os azuis e dourados vívidos dos organismos ainda vivos, Fitor ia direto ao trabalho, pois quando os copépodes morrem, eles rapidamente perdem a cor e se parecem com besouros marrons.

O resultado de tanto empenho e profissionalismo? Fotos maravilhosamente iluminadas e em cores vibrantes que conseguiram capturar as criaturas realizando diversas atividades, entre elas, comer, acasalar e se libertar de predadores.

“Foi como uma janela para um mundo totalmente novo para mim […] É um projeto que não quero acabar, e provavelmente nunca vai acabar, porque cada vez que entro no mar encontro uma nova forma”, diz Fitor.

Confira a vida dentro de uma gota de água:

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