Fóssil de antepassado dos mamíferos de 200 milhões de anos descoberto no RS

A descoberta paleontológica no município de Dona Francisca, no RS, revela novo capítulo na evolução dos ancestrais dos mamíferos

Daniela Marinho
Reconstituição artística do cinodonte encontrado em Dona Francisca, no interior do RS. Imagem: Julia D'Oliveira

Uma nova espécie de antepassado dos mamíferos que viveu há 200 milhões de anos foi descoberta no interior do Rio Grande do Sul. O achado foi publicado na revista científica americana The Anatomical Record e evidencia a diversidade e a capacidade de adaptação dos cinodontes.

Além disso, a descoberta paleontológica levanta novas discussões relacionadas à evolução dos ancestrais dos mamíferos que reverbera numa compreensão mais aprofundada sobre o passado.

Nova espécie de antepassado dos mamíferos

A descoberta de uma nova espécie de cinodonte, um antepassado dos mamíferos, na região central do estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente em Dona Francisca, foi fruto do árduo trabalho de uma equipe de pesquisadores liderada pelo paleontólogo Leonardo Kerber, vinculado ao Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria.

As informações agora compartilhadas remetem a uma descoberta feita em 2009 pelos paleontólogos Lúcio Roberto-da-Silva e Sérgio Cabreira, no município de Dona Francisca.

Nessa localidade, inserida em camadas de rochas sedimentares que datam do Período Triássico, há aproximadamente 241 e 236 milhões de anos atrás, foi encontrado um crânio completo, acompanhado de mandíbula. Esta revelação ocorreu nas terras da Família Bortolin, em uma área que assumiu um papel crucial na compreensão do passado distante da região.

Paratraversodon franciscaensis

Espécimes tão bem preservados deste período são raros, o que confere um valor adicional à descoberta do crânio de um antepassado dos mamíferos. Contudo, durante anos, a identidade precisa desse animal permaneceu desconhecida.

Ao comparar o cinodonte encontrado em Dona Francisca com dezenas de fósseis provenientes de coleções no Brasil, Alemanha e Inglaterra, não foi encontrado nenhum outro exemplar com características semelhantes.

Desse modo, foi nomeada a espécie Paratraversodon franciscaensis, em honra à cidade onde foi descoberta. O processo de identificação envolveu também a utilização de tomografia computadorizada, possibilitando a análise de estruturas não visíveis externamente.

Por meio da tomografia computadorizada, foi possível criar modelos tridimensionais das cavidades internas do crânio, permitindo uma reconstrução parcial da morfologia externa do cérebro desses animais. Consequentemente, foram feitas inferências sobre a fisiologia dos cinodontes, como explicou Kerber.

Conexão entre répteis e mamíferos

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Crânio do animal antepassado dos mamíferos, constatando tratar-se de uma nova espécie de cinodonte. Imagem: Divulgação

O Paratraversodon franciscaensis, um animal herbívoro do grupo Traversodontidae, alcançava aproximadamente 1 metro de comprimento, desempenhou o papel de elo evolutivo entre os répteis e os mamíferos.

Contrariamente aos mamíferos contemporâneos, essa espécie era ectotérmica; ou seja, possuía uma temperatura corporal regulada pelo ambiente cuja característica é denominada como sangue frio, compartilhada com lagartos e crocodilos.

Durante o período do Triássico, quando o Paratraversodon franciscaensis prosperava, a maioria dos organismos adotava esse tipo de metabolismo, uma vez que as temperaturas eram significativamente mais elevadas do que as observadas atualmente.

Além disso, as evidências sugerem que esse antepassado dos mamíferos não possuía uma pelagem corporal, diferenciando-se das características distintivas dos mamíferos modernos, como pontua o pesquisador.

Cinodonte e dinossauro

Até aqui, entendemos que o cinodonte é um antepassado dos mamíferos, enquanto os dinossauros originaram as aves. Kerner explica:

É bem difícil imaginar hoje como eram os cinodontes, mas eram animais quadrúpedes, parecidos com os mamíferos atuais, mas sem pelos e sem orelhas. Os membros deles eram lateralizados, como os dos lagartos, e não abaixo do corpo, como os de um cachorro, por exemplo. Além disso, não temos evidência de quando a amamentação começou a ser realizada por animais, então é possível e suposto que eles colocavam ovos […] Dinossauros viveram durante toda a era mesozóica, que vai do período triássico ao cretáceo, passando ainda pelo período jurássico. Depois disso, todos os grandes dinossauros são extintos por um grande meteoro, e os únicos sobreviventes dão origem às aves. Quando os dinossauros foram extintos, começaram a prosperar os mamíferos, que vieram dos cinodontes.

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