Fósseis revelam uma floresta exuberante no coração da Austrália

Mateus Marchetto
Imagem: Michael Frese

Lagerstätte é um termo alemão utilizado na paleontologia para descrever sítios ricos em fósseis muito conservados. Em 2017, nesse sentido, pesquisadores descobriram um Lagerstätte com fósseis de um ecossistema que foi uma floresta exuberante entre 11 e 16 milhões de anos atrás.

Durante o começo do período Mioceno ( 23 a 5 milhões de anos atrás), as temperaturas no planeta todo tiveram um leve aumento logo antes de despencarem. Essa variação abrupta causou extinções em massa por todo o planeta. Na Austrália, por conseguinte, os ecossistemas passaram a ficar cada vez mais secos e quentes.

O Continente Australiano, então, passou a perder as ricas florestas do Mioceno para dar lugar a um crescente deserto que hoje abrange a maior parte da Austrália em si.

Contudo, como relata a pesquisa publicada no periódico Science Advances, um novo sítio arqueológico tem revelado fósseis altamente raros destes ecossistemas florestais australianos. Em New South Wales fica o sítio McGraths Flat, em uma região apelidada de “coração morto da Austrália“, de tão árido o ambiente.

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Pena fossilizada em McGraths Flat. Imagem: McCurry et al. / Science Advances, 2021

Apesar de parecer uma área desolada, contudo, pesquisadores já encontraram dezenas de fósseis de diferentes tipos de plantas, peixes, aracnídeos, libélulas bem como fungos e esporos.

“Os fósseis que encontramos provam que a área foi um dia uma floresta temperada tropical e que a vida era rica e abundante aqui no Planalto Central, New South Wales,’ diz o autor Matthew McCurry em uma declaração.

Recriando um ecossistema a partir de fósseis

Após o início da exploração do sítio arqueológico, a equipe de pesquisadores utilizou diversos métodos para identificar os fósseis presentes por lá. Estes restos fossilizados, aliás, estavam dentro de rochas de goethita – um mineral de óxido de ferro que raramente conserva fósseis.

Contudo, pesquisadores acreditam que o processo de drenagem de águas ricas em ferro para um lago podem ter criado um ambiente favorável a uma preservação tão completa dos materiais biológicos.

Em alguns dos fósseis de peixes descobertos no local, a equipe conseguiu identificar melanossomos, as organelas que armazenam melanina. Ademais, com auxílio da microscopia eletrônica de varredura, os cientistas identificaram esporos de fungos e plantas, bem como outras estruturas a nível celular.

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Imagem: Alex Boermsa

Pela alta conservação, por conseguinte, os autores puderam identificar restos de alimentos no sistema digestivo de peixes, além de grãos de pólen em alguns insetos polinizadores.

“Os fósseis de plantas de McGraths Flat nos dão uma janela para a vegetação e ecossistemas de um mundo mais quente, um que provavelmente vamos conhecer no futuro. A preservação de fóssil vegetal é única e fornece ideias importantes sobre um período de tempo para o qual o registro fóssil na Austrália é um tanto pobre,” diz o autor David Cantrill.

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