Fósseis dos primeiros recifes do mundo foram parar nas montanhas de Nevada

Mateus Marchetto
Imagem: klausdie / Pixabay

Talvez o topo de uma montanha não pareça o lugar mais provável para se encontrar um recife. Ainda assim, geólogos e paleontólogos visitam diversas das montanhas do estado americano de Nevada em busca de fósseis de recifes.

Isso porque as montanhas em questão são, na verdade, um sítio riquíssimo de extração de fósseis. Dentre os restos de animais e outros organismos, pesquisadores descobriram alguns dos recifes mais antigos do nosso planeta.

Datando de 520 milhões de anos, estes recifes são do período Cambriano. Nesse sentido, eles não são recifes de corais, como conhecemos hoje. Isso porque os corais ainda nem existiam nessa época. Na verdade os organismos que formavam os recifes eram um filo já extinto de animais semelhantes a esponjas: os arqueociatos.

Acontece que, durante o período Cambriano, o estado de Nevada estava na borda da América do Norte. Contudo, o continente ainda nem formado estava muito mais próximo do Equador, e boa parte dos continentes modernos ainda estavam submersos.

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Outrora, milhões de anos atrás, os picos das montanhas estavam no fundo do mar. Imagem: Sara Pruss/Smithsonian

Assim, com temperaturas tropicais, ecossistemas altamente ricos e diversos de recifes puderam se desenvolver nas águas marítimas de Nevada. A partir daí, os fósseis foram se depositando até serem revelados milhões de anos depois. Com o choque de placas tectônicas, o antigo solo oceânico foi elevado até se tornar conjuntos de montanhas.

Pesquisadores encontraram novos recifes nas montanhas

Perto da cidade quase-fantasma de Gold Point, no Nevada (com incríveis 7 habitantes), pesquisadores descobriram um novo coral com diversas informações importantes sobre os oceanos do período Cambriano.

De acordo com a pesquisa de fevereiro de 2021, publicada no periódico Facies, o recife recém-descoberto tinha aproximadamente 70 metros de largura. Além disso, o fóssil gigante ainda conservava outros exemplares dos mais diversos animais do Cambriano. Esta biodiversidade do recife reflete também aquela observada hoje em ecossistemas como a Grande Barreira de Corais.

Segundo os autores, os fósseis presentes no Recife de Gold Point (nome dado pelos pesquisadores) representavam ao menos três estágios do desenvolvimento destas estruturas. O primeiro estágio ecológico continha apenas uma espécie pioneira que iniciava a colonização de um ambiente favorável para a formação do recife.

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Fósseis de arqueociatos. Imagem: Mary Lonsdale

O segundo estágio contava com, em média, nove espécies de arqueociatos que depositavam fundações e moldavam os sedimentos para formar as bases do recife. No último estágio do desenvolvimento ecológico, pesquisadores encontraram duas espécies dos animais, com outras características distintas.

A partir destes dados a equipe pode indicar um tempo de vida destes corais de em torno de 20 milhões de anos. Apesar de muito tempo para um único indivíduo, 20 milhões de anos é um período bastante curto para u ecossistema tão diverso e que abrigava tantas espécies.

Evidentemente, entender a dinâmica de vida e morte destes ecossistemas pode nos ajudar a proteger nossos próprios, evitando que eles virem apenas rochas no topo de montanhas.

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