“Doença do Nobel”: Por que alguns dos maiores cientistas ficam malucos?

Rafael Motta
Imagem: Time

Conseguir reconhecimento e respeito da comunidade científica é algo que muitos estudiosos almejam com unhas e dentes. Algumas das mentes mais brilhantes são agraciadas pelo Prêmio Nobel, a maior conquista que um cientista pode conseguir – além de, claro, resolver questões caras para a humanidade por conta de seus árduos esforços.

Entretanto, a fama pode trazer consigo efeitos colaterais indesejáveis. Muitos dos laureados acabam fazendo comentários no mínimo questionáveis sobre diversos assuntos, especialmente os que não fazem parte de seus próprios campos de estudo. 

Existe, inclusive, um termo que define os indivíduos que são tomados pela arrogância e soberba depois que conquistam o prêmio: “Doença do Nobel”.

Exemplos infelizes

O laureado Tim Hunt fez uma declaração sexista durante a Conferência Mundial de Jornalistas Científicos em Seul, na Coreia do Sul, em 2015. O bioquímico britânico afirmou que mulheres causam problemas no ambiente de trabalho, pois “fazem os homens se apaixonarem por elas e choram quando são criticadas”. 

William Bradford Shockley Jr., vencedor do Nobel de Fìsica em 1956 por seus estudos sobre semicondutores, disse à revista New Scientist, em 1973, que acreditava “sinceramente” que a Academia Nacional de Ciências deveria apoiar pesquisas sobre eugenia racial. 

Brian Josephson é um físico britânico que ganhou o Nobel aos 22 anos de idade. Contudo, apesar de seu incontestável talento, Josephson passou a ser um entusiasta de áreas pseudocientíficas, como telepatia, psicocinese e parapsicologia.

Possíveis causas

Por se tratar de um termo coloquial, a “Doença do Nobel” não se refere a uma patologia médica, mas a um conjunto de características que podem levar mentes brilhantes a entrar em declínio. Eis alguns exemplos de características que podem danificar a reputação dos cientistas:

  • Narcisismo: Alguns ganhadores do Nobel podem acreditar que são mais inteligentes ou importantes que as outras pessoas. Além disso, podem ficar extremamente obcecados por suas próprias buscas e conquistas dentro de suas respectivas áreas;
  • Isolamento: Muitos gênios preferem evitar contato com outras pessoas para focar em seus afazeres à sua maneira, sem interrupções. Ainda que isso não seja necessariamente um problema, a falta do olhar de terceiros pode tornar o cientista indiferente a outros pontos de vista;
  • Bajulação: Laureados tendem a ser bastante citados por seus pares de maneira excessivamente positiva. Por conta disso, alguns podem acreditar que estão “acima do bem e do mal” e acabam falando o que bem entendem.
  • Apatia: Certos laureados simplesmente não se importam com os sentimentos dos outros: por conta disso, fazem declarações, sem nenhum remorso, que acabam ferindo certos grupos.

Nobel é só um prêmio, afinal

É claro que nem todos os laureados se tornaram vítimas do próprio sucesso: todavia, é impossível negar que a quantidade de estudiosos renomados que se entrega à soberba é considerável. Ou o termo “Doença do Nobel” sequer teria sido cunhado.

De maneira geral, os gênios são pessoas mais introspectivas e excêntricas. Albert Einstein, por exemplo, defendia o uso do fumo para focar em seus assuntos de maneira mais calma e objetiva. Nikola Tesla, por outro lado, exercitava os dedos dos pés todas as noites para “estimular as células do cérebro”. 

Estes são hábitos não muito ortodoxos, de fato, mas que são inofensivos à honra de seus autores. Mas nem todas as grandes mentes da história têm uma personalidade humilde ou discreta: lembrar-se de que a arrogância acomete tanto os sábios como os ignorantes ajuda a compreender que ninguém está acima do bem e do mal.

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