DNA revela a história da enorme jornada feita por um mamute lanoso há 14.000 anos

Daniela Marinho
Imagem: arte de Julius Csotonyi

Uma recente investigação sobre os restos de um mamute lanoso, com cerca de 14.000 anos de idade, proporcionou uma compreensão mais profunda da existência de uma fêmea desse magnífico animal.

Os vestígios sugerem que a criatura, de maneira trágica, encontrou seu fim nas mãos de caçadores, nas proximidades do mais antigo sítio arqueológico do Alasca.

Este achado arqueológico revelou detalhes preciosos sobre a interação entre os mamutes e os primeiros habitantes humanos na região, fornecendo insights significativos sobre o modo de vida e as práticas de caça das comunidades antigas que coexistiam com essas majestosas criaturas da Era do Gelo.

Reconstrução científica fascinante

Os pesquisadores meticulosamente reconstruíram a jornada de uma fêmea de mamute-lanudo, desde seu ponto de origem nas terras atuais do Canadá até alcançar a região central-leste do Alasca, onde, aproximadamente 14 mil anos atrás, seu destino foi selado pelas mãos de caçadores-coletores.

Batizado como Élmayuujey’eh, cuja tradução na língua aborígine Kaska ressoa como “hella lookin”, esse mamute provavelmente encontrou seu fim prematuro nas mãos dos primeiros caçadores-coletores beringianos, quando atingiu a idade de 20 anos.

A preservação notável desse espécime é creditada à descoberta de uma presa completa, revelada em Swan Point, um dos mais antigos sítios arqueológicos das Américas.

Élmayuujey’eh, carinhosamente chamada de Elma, veio ao mundo no crepúsculo da última era glacial, nas vastas terras da província canadense de Yukon. Nos primeiros anos de sua existência, é presumível que tenha permanecido fielmente em seu local de nascimento.

No entanto, uma minuciosa análise da presa do mamute agora sugere uma reviravolta fascinante em sua história. Ao que tudo indica, Elma empreendeu uma notável jornada pela paisagem congelada, percorrendo impressionantes 1.000 quilômetros em menos de três anos.

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Imagem: Canva

Indício de estrutura familiar do Mamute lanoso

A análise dos vestígios mortais dessa distinta mamute revela que ela compartilhava uma proximidade genealógica com um mamute lanoso juvenil e um recém-nascido, cujos ossos também foram identificados em Swan Point.

Este trio de mamutes, com sua presença simultânea no mesmo sítio arqueológico, suscita a possibilidade de pertencerem a um dos dois rebanhos matriarcais que, segundo o estudo publicado na revista Science Advances, perambulavam em uma área situada a aproximadamente 10 quilômetros de Swan Point.

Desenrolar da análise

Para reconstruir a trajetória de vida de Elma, os cientistas adotaram uma abordagem minuciosa, segmentando sua presa longitudinalmente e examinando meticulosamente as finas camadas de marfim que se desenvolveram ao longo de seus anos, assemelhando-se aos anéis de crescimento em um tronco de árvore.

A análise da proporção de diferentes variantes de elementos químicos, conhecidos como isótopos, presentes nessas camadas, revelou informações cruciais sobre a dieta e os locais frequentados pelo mamute, proporcionando à equipe a habilidade de rastrear seus movimentos ao longo do tempo.

Relação com humanos

Os vestígios de Elma indicam que ela estava em plena idade adulta e em boa condição nutricional quando morreu. Sua morte, provavelmente no final do verão ou início do outono, coincide com a temporada em que os humanos estabeleceram seu acampamento de caça sazonal em Swan Point.

O estudo sugere que ela pode ter perdido a vida nas mãos dos caçadores durante esse período.

Hendrik Poinar, professor de antropologia na Universidade McMaster, no Canadá, e diretor do McMaster Ancient DNA Center, aborda um ponto mais amplo sobre a possível relação entre mamute lanoso e povos antigos:

Os dados para mim sugerem que estes eram povos indígenas que apreciavam, olhavam e amavam essas feras fenomenais caminhando nesta paisagem. Mas também faria sentido que, em tempos de necessidade, você os matasse – um mamute como esse poderia fornecer alimentos para um grande número de pessoas durante um longo período de tempo.

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