Cientistas refutam possibilidade de vida em Vênus pela fosfina

SoCientífica
Superfície de Vênus. (Roscosmos)

Pesquisa sugere que a fosfina encontrada na atmosfera de Vênus provavelmente era apenas dióxido de enxofre comum, o que refutaria uma das maiores descobertas da década passada.

Em setembro, pesquisadores haviam possivelmente encontraram fosfina na atmosfera superior de Vênus. O anúncio foi manchete em todo o planeta, inclusive aqui na SoCientífica. A razão disso era óbvia: em nosso planeta, sabemos que estas moléculas podem ser produzidas por bactérias anaeróbicas.

Desde então, estudos vêm questionando a confiabilidade dessa possível detecção. Um desses estudos, liderado pela Universidade de Washington e com colaboração da NASA, chegou à conclusão que a molécula encontrada em Vênus não era fosfina.

Cada composto químico absorve comprimentos de onda únicos do espectro eletromagnético. Os astrônomos então os analisam para aprender mais sobre a composição química de uma atmosfera extraterrestre. O estudo que havia “encontrado fosfina” relatou a detecção de um sinal espectral de 266,94 gigahertz na atmosfera venusiana. Mas tanto a fosfina e o dióxido de enxofre, outro composto muito mais provável de existir em Vênus, absorvem ondas de rádio próximas a esta frequência. Sabendo disso, muitos cientistas questionaram o estudo usando a analogia da Navalha de Ockham e outras evidências que favorecessem a possibilidade de não ser fosfina.

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Afinal, era fosfina em Vênus?

Neste novo estudo, os pesquisadores começaram modelando as condições na atmosfera de Vênus, com base em várias décadas de observações. Eles então utilizaram esta base para interpretar de forma abrangente as características observadas e não observadas nos conjuntos de dados do ALMA — telescópio utilizado pela equipe que relatou a existência de fosfina.

Sinais de vida extraterrestre são encontrados em Vênus
Ilustração artística retratando moléculas de fosfina na atmosfera de Vênus. (Imagem: ESO/ M. Kornmesser/ L. Calçada/ NASA/ JPL-Caltech/ Royal Astronomical Society/ Attribution: CC BY 4.0)

A equipe utilizou este modelo para simular sinais de fosfina e dióxido de enxofre em diferentes níveis na atmosfera de Vênus e analisar como estes sinais seriam captados pelo ALMA em suas configurações. Com base na forma do sinal, os pesquisadores primeiramente apontaram que a absorção não veio da camada de nuvens de Vênus, como relatado pela pesquisa que relatou a existência de fosfina.

Ao invés disso, o sinal observado veio da mesosfera de Vênus, localizada 80 km acima da superfície. A esta altitude, produtos químicos agressivos e radiação ultravioleta destruiriam as moléculas de fosfina em segundos, de acordo com os pesquisadores.

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Dados confusos

Eles também descobriram que os dados do ALMA haviam subestimado significativamente a quantidade de dióxido de enxofre na atmosfera de Vênus.

“A configuração da antena ALMA na época das observações de 2019 teve um efeito colateral indesejável: sinais de gases encontrados em quase todos os lugares da atmosfera de Vênus, como o dióxido de enxofre, emitem sinais mais fracos do que os gases em uma escala menor”, disse Alex Akins, da JPL da NASA. Este fenômeno é conhecido como diluição da linha espectral.

Por fim, os pesquisadores descrevem que o dióxido de enxofre pode não apenas explicar as observações feitas pela equipe que detectou fosfina, mas que estes resultados também são mais consistentes com o que os astrônomos sabem sobre a atmosfera do planeta, que inclui nuvens de ácido sulfúrico.

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