Você deve ter visto, hoje (14), a notícia de que os cientistas encontraram sinais potenciais de vida microscópica em Vênus, através da detecção da fosfina. Entretanto, o que é essa tal fosfina e por que ela indica a possível existência de vida?
Para realizar a detecção, os cientistas utilizaram o telescópio americano James Clark Maxwell, localizado no Havaí, e Atacama Large Millimeter Array (ALMA), que fica no Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.
Nos resultados da pesquisa, publicados na revista Nature Astronomy, os cientistas explicam os detalhes da detecção. No entanto, eles não buscavam exatamente pela fosfina.
“Esta foi uma experiência feita por pura curiosidade, aproveitando a poderosa tecnologia do JCMT, e pensando em instrumentos futuros”, explica em um comunicado Jane Greaves, autora principal.
“Pensei que seríamos capazes de descartar cenários extremos, como as nuvens sendo recheadas de organismos. Quando tivemos os primeiros indícios de fosfina no espectro de Vênus, foi um choque!”, conta.
O que é a fosfina?
Fosfina é um nome mais simples para hidreto de fósforo. Trata-se, em temperaturas acima de -88°C, de um gás. Como o próprio nome sugere, portanto, é composto por fósforo e hidrogênio (PH3).
Aqui na Terra, ela possui algumas aplicações. Por exemplo, na forma de pastilhas, serve como agrotóxico, principalmente no papel de evitar pragas durante a armazenagem e estoque de grãos. No entanto, o papel da fosfina vai muito além de um gás incolor, fedido e tóxico. Para a ciência seu papel é bastante importante. E os cientistas já sabiam que ela poderia ser um marcador de vida.
Nem todo ser vivo respira, embora a maior parte dos que podemos ver o façam. Muito microorganismos são anaeróbicos, ou seja, não precisam do oxigênio para sobreviver. Além disso, para alguns deles, inclusive, o oxigênio pode ser tóxico.
O principal papel do oxigênio para nós é na obtenção de energia. Os seres anaeróbios, no entanto, fazem isso através do Sol, do açúcar ou de meios geológicos. As bactérias que fermentam, por exemplo, são anaeróbicas. Aqui na Terra, a fosfina é liberada exatamente por esses seres anaeróbicos. Esse processo ocorre na decomposição da matéria orgânica. Os microrganismos transformam o fosfato (P04) em fosfina (PH3).
Fosfina em outros planetas
Ela é, portanto, uma ótima bioassinatura para a vida microbiana. Embora seja principalmente resultado da fermentação e decomposição, não é gerada apenas por meios biológicos.
Em 2009 um estudo publicado no periódico Icarus já descreveu a existência de fosfina nas nuvens de Júpiter e de Saturno. No entanto, para a produção da fosfina é necessária uma grande quantidade de energia.
Você se lembra da grande mancha de Júpiter, na imagem acima? Essa mancha é uma tempestade muito maior do que a própria Terra. Então podemos afirmar que energia nas nuvens jupiterianas é o que não falta.
No entanto, já que para a fosfina ser criada por meios não biológicos é necessária uma quantidade tão grande de energia, deve ser difícil encontrá-la pelo universo, correto? Sim. É exatamente por isso que no final de janeiro de 2020, SOUZA-SILVA et al., em um estudo na revista Astrobiology, propuseram a fosfina como uma forma de bioassinatura, ou seja, uma evidência molecular que somente a vida poderia gerar.
Agora, os cientistas acabaram de detectá-la em Vênus. A vida nas nuvens do planeta já eram cogitadas, como abordamos nesta matéria. Agora resta confirmar a origem do gás.
Com informações de NIH, FLETCHER, L. N. et al. e SOUZA-SILVA et al.