Nuvens ácidas de Vênus poderiam abrigar vida

Felipe Miranda
(Créditos da imagem: NASA/Jet Propulsion Laboratory-Caltech).

Por um tempo, a vida em Vênus foi cogitada. Essa era, inclusive, a linha de pesquisa de Carl Sagan. Embora seu clima não muito agradável tenha matado a ideia, os cientistas pensam que as nuvens ácidas de Vênus poderiam abrigar vida.

Claro, que como um cientista, Sagan não se apegou à ideia da vida em Vênus. Ele foi um dos pioneiros a mostrar que Vênus deveria ser estéril. Em um artigo publicado na revista Nature em 1967, Sagan debate as ideias de vida.

Na época, sabíamos muito pouco sobre o planeta. Isso é notável já no resumo do artigo de Sagan: “Mesmo se a superfície for quente, as regiões polares podem ser frias o suficiente para sustentar a vida, ou podem existir montanhas suficientemente altas, e assim por diante”, diz.

Hoje sabemos mais. O clima em Vênus não é nada agradável. Embora não seja o planeta mais próximo do Sol, é o mais quente, graças aos gases, que geram um imenso efeito estufa. Sua temperatura média é de incríveis 461°C.

Algumas sondas, como as soviéticas Venera 7 e Venera 13, além da Pioneer Vênus e Magellan, estas duas últimas americanas, analisaram o planeta, e conseguiram sobreviver por algumas horas em sua superfície. 

Entretanto, mesmo assim, não conseguimos estudar Vênus tanto quanto estudamos Marte, e não há nem mesmo tanto interesse. Agora, no entanto, o jogo pode mudar, com cientistas reafirmando uma não tão pequena possibilidade da vida microscópica nas nuvens ácidas de Vênus. 

Carl Sagan propôs, como se vê naquele trecho destacado, montanhas onde a temperatura fosse um pouco mais amigável. E bom, a ideia das nuvens segue uma lógica um tanto parecida. 

Bravos seres nas nuvens ácidas de Vênus

Em nuvens em torno de 48 e 60 quilômetros acima da superfície, as temperaturas poderiam ser um pouco mais amigáveis, poderia haver nutrientes, além da água dissolvida por entre as moléculas de ácido sulfúrico. 

A pesquisa foi liderada por Sara Seager, astrofísica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). A publicação ocorreu no dia 13 de agosto na revista Astrobiology

A ideia da vida nas nuvens também não é muito nova. Ainda em 1967, em outro estudo, Carl Sagan, junto à Harold Morowitz, em um estudo intitulado “Life in the Clouds of Venus?”, também na Nature, já propuseram isso. 

Mas a nova equipe propôs um ciclo de como esses micróbios podem sobreviver por lá, inspirados em como ocorre esse comportamento na Terra. Sabe-se, também, que microrganismos são capazes de suportar o ácido sulfúrico. 

“Em nossa própria Terra, também temos o que chamamos de biosfera aérea. Os da Terra são varridos para cima e flutuam. Eles entram nas gotículas e o vento os carrega por continentes e oceanos inteiros”, explica Seager à Astronomy.

Seria um ciclo repetido de “vida e morte”. Quando as gotas precipitassem cairiam em nuvens um pouco mais quentes, onde rapidamente o ácido evaporaria. Nesse momento, os microrganismos perderiam a proteção e entrariam em um estado dormente. 

Entretanto, poderiam ser jogados para cima novamente. No alto, onde as temperaturas estariam abaixo de 77°, e cobertos por água, eles poderiam voltar à vida, e o ciclo se repete.

Note que trata-se apenas de uma hipótese. Materiais como DNA, RNA, açúcares e proteínas podem ser destruídos pelo ácido sulfúrico. As próximas etapas envolvem amadurecer a ideia e buscar por mais exemplos semelhantes na Terra.

O estudo foi publicado no periódico Astrobiology. Com informações de Astronomy

 

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