Há cerca de 3.200 anos, os cavaleiros e pastores da região da Bacia de Tarim, no oeste da China, foram os pioneiros na fabricação de calças. Eles misturavam padrões decorativos com técnicas de tecelagem que fizeram surgir os pares de calças mais antigas, elegantes e duráveis do período.
Com a atenção que este artefato possui, uma equipe formada por diversos especialistas, que vão desde arqueólogos a designers de moda, desvendaram a forma que essas calças foram feitas e criaram uma réplica moderna dela.
“Uma diversidade de técnicas e padrões têxteis de diferentes origens, tradições e épocas locais se fundiram em algo novo nessa peça”, diz a arqueóloga e diretora do projeto Mayke Wagner, do Instituto Arqueológico Alemão em Berlim. “A Ásia Central Oriental era um laboratório onde pessoas, plantas, animais, conhecimentos e experiências de diferentes direções e fontes vinham… e se transformavam.”
A descoberta das calças mais antigas do mundo
Os cientistas encontraram a calça enquanto ela ainda servia de vestimenta para o corpo de um homem mumificado do cemitério de Yanghai, local que vem sendo escavado por arqueólogos chineses desde os anos 1970.
O homem, batizado de Turfan Man porque o local em que foi encontrado fica a 43 quilômetros da cidade chinesa de Turfan, trajava outras roupas além das calças mais antigas do mundo. Mas a peça foi o que mais chamou atenção dos cientistas por ter um visual sofisticado e moderno.
Além da aparência, os pesquisadores também ficaram se perguntando como a peça havia sido feita, já que ela não possuía vestígios de corte, fazendo a equipe suspeitar de que a roupa havia sido tecida para caber no seu usuário.
O artefato possuía um tecido inovador
Com suas primeiras suspeitas, os cientistas seguiram estudando e examinando melhor a peça, onde eles perceberam uma combinação de três técnicas de tecelagem. Mas grande parte da composição da peça era feita de sarja, que foi uma grande inovação na história dos tecidos.
A sarja é a responsável por alterar a natureza da lã tecida de firme para algo mais elástico, permitindo que a pessoa conseguisse se mover livremente usando um par de calças justas.
Quem reconheceu o tipo de tecido das calças mais antigas do mundo foi a arqueóloga têxtil Karina Grömer, do Museu de História Natural de Viena. Ela relata que o mesmo tecido foi encontrado na mina de sal Hallstatt na Áustria.
Considerado o tecido de sarja mais antigo do mundo, a datação por carbono mostrou que o tecido de Hallstatt possui cerca de 3.500 anos, mostrando que ele surgiu há 200 anos antes das calças do Turfam Man.
Grömer diz que é possível que pessoas da Europa e da Ásia central tinham inventado a tecelagem de sarja, mas no local de Yanghai, os tecelões podem ter combinado a sarja com outras técnicas e designs inovadores para criar calças de montaria de alta qualidade.
Técnicas que inspiraram os jeans atuais
A pesquisadora Karina Grömer disse que a peça é “como o Rolls-Royce das calças.” Isso se deve pelas diferentes técnicas utilizadas para a fabricação da peça, fazendo ela ser algo único.
Nas calças mais antigas do mundo foi utilizado uma técnica de tecelagem que produzia um tecido mais espesso e protetor na região dos joelhos, além de utilizar um outro método na borda superior para criar um cós grosso.
As calças ainda possuem outras características que mostram um método incomum de entrelaçamento, onde dois fios de trama de cores diferentes eram torcidos a mão e amarrados através de fios de urdidura para criar um padrão geométrico decorativo nos joelhos.
O mesmo método de entrelaçamento é encontrado nos tornozelos e panturrilhas, onde foi produzido listras em ziguezague nas calças. A equipe de pesquisadores só conseguiu encontrar esse método em alguns exemplos históricos, como os mantos do povo maori, um grupo indigena da Nova Zelândia.
Os tecelões de Yanghai também conseguiram ser mais inovadores ao projetar uma peça que tinha uma virilha justa que era mais larga no centro do que nas extremidades. Já tem registros de calças que datam apenas algumas centenas de anos depois do achado de Yanghai que conectam as pernas das calças por peças quadradas de tecido que resultaram em um modelo menos confortável e flexível.
A observação dessas técnicas ajuda a mostrar como chegamos aos padrões atuais de fabricação de tecido. Os métodos de tecelagem utilizados pelo povo de Yanghai na fabricação das calças mais antigas do mundo são parecidos com a fabricação dos jeans atuais.
Isso se deve muito por conta da migração dos pastores locais, que levavam consigo novas ideias e práticas de tecelagem. Registros mostram que há 2.000 anos, eles faziam uma rota que passava por uma importante rede de comércio e viagens que ia da China à Europa, que mais tarde ficou conhecida como Rota da Seda.
Isso mostra que o estudo das calças mais antigas do mundo são um ponto de partida interessante para examinar como a Rota da Seda transformou o mundo.