Humanos produziam roupas há 120.000 anos, mostram ossos

Mateus Marchetto
Imagem: Couleur / Pixabay

Um clique. Isso é o necessário para que uma peça de roupa nova chegue às nossas caixas de correio, geralmente. Para nossos ancestrais pré-históricos, contudo, o processo era bem mais trabalhoso. Mesmo assim, um novo estudo agora indica que humanos produziam roupas há pelo menos 120.000 anos.

As evidências desse fato vêm de uma caverna no Marrocos, a Caverna Contrebandiers. Já há vários anos, arqueólogos encontram milhares de ossos de humanos e animais na caverna, a maioria com idades entre 90.000 e 120.000 anos. Ossos de pelo menos 67 espécies vertebradas diferentes, inclusive, estão presentes na caverna, além dos de humanos.

Até mesmo um dente de baleia – provavelmente uma cachalote – estava presente entre os ossos. Não se sabe ao certo como o dente foi parar na Caverna Contrebandiers, mas ele provavelmente foi parte das ferramentas dos Homo sapiens, como veremos mais à frente.

A maioria destas espécies, portanto, provavelmente foi alimento das comunidades humanas que viveram na caverna, como antílopes, auroques e gazelas. Contudo, a equipe de pesquisadores, liderara por Emily Y. Hallett, notou marcas diferentes nos ossos destes animais. Estas marcas, por conseguinte, indicam a retirada da pele, provavelmente para a fabricação de roupas.

Além do mais, ossos de diversos carnívoros como a raposa-de-Ruppell, chacal-dourado e gatos selvagens tinham as mesmas marcas. Como estes animais não faziam parte da dieta dos sapiens, tudo indica que humanos produziam roupas a partir das peles destes carnívoros.

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Imagem:  Gerwin Exters / Pixabay 

A arte milenar de produzir roupas

Além das centenas de ossos marcados por incisões e cortes característicos da produção de peles tratadas, outra evidência indica que estes humanos podiam produzir roupas e peles. Acontece que os pesquisadores encontraram diversas ferramentas feitas com os próprios ossos das presas.

De acordo com a pesquisa, publicada no periódico iScience, estas ferramentas tinham o objetivo de retirar cuidadosamente as peles do corpo dos animais. O dente de baleia, citado anteriormente, inclusive, poderia ter servido para a afiação destas ferramentas.

Vale ressaltar que, nesta escala de tempo, as evidências de roupas são bastante indiretas. Isso porque tecidos e peles raramente se conservam por tantos milhares de anos, a não ser em condições muito especiais.

Há mais de dez anos, por exemplo, pesquisadores sequenciaram o genoma de piolhos para avaliar a relação destes insetos com a evolução humana. Assim, piolhos também podem parasitar peles e roupas feitas de compostos naturais. Deste modo a equipe pode inferir que talvez piolhos já estivessem em roupas há pelo menos 170.000 anos.

Essa última evidência, aliás, faz todo sentido com os ossos e ferramentas agora encontrados na Caverna Contrebandiers.

De acordo com a equipe de pesquisadores, mesmo regiões da África podem ter tido climas bastante frios durante certos períodos do Pleistoceno. Assim, as roupas podem ter sido outro – dentre muitos – fator determinante para a sobrevivência e adaptação da espécie humana.

Posteriormente, aliás, as roupas e peles permitiram que os Homo sapiens migrassem para a Europa e Ásia, finalmente chegando às Américas e à Oceania.

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