Antes do surgimento de motores e máquinas a vapor, o principal meio de transporte humano foi biológico. Os cavalos, nesse sentido, transportaram cargas e humanos por milhares de anos, moldando a própria organização de nossa sociedade. Agora cientistas podem ter encontrado a origem dos cavalos domésticos que conhecemos hoje.
Contando com mais de 273 fósseis de cavalos domésticos e selvagens, datando de até 50.000 anos de idade, a pesquisa publicada na revista Nature procurou semelhanças genéticas entre os equinos modernos e diversas populações ancestrais. Essa análise mostrou a origem dos cavalos domésticos há 4.200 anos, em uma região acima do Mar Cáspio.
Fósseis de uma área de 500km quadrados na região de Don-Volga foram os que apresentaram a maior similaridade com os genes dos cavalos atuais. A área faz parte da Rússia e é, de acordo com os pesquisadores, “bastante estreita.”
Acontece que antes desse período, outros grupos de cavaleiros já tinham domesticado diversas outras linhagens de cavalos ao redor da Europa e da Ásia. Contudo, a linhagem que deu origem aos cavalos domésticos acabou dominando o planeta em algumas centenas de anos. Ou seja, do dia para a noite em uma escala evolutiva.
Esse sucesso evolutivo explosivo pode estar ligado a diversas características, mas duas elas foram decisivas nessa pesquisa. De acordo com os autores, dois genes responsáveis pela resistência e pela docilidade têm mutações nas linhagens modernas de cavalos.
O gene GSDMC, primeiramente, é relacionado a menores níveis de ansiedade em mamíferos – e consequentemente animais mais dóceis. Já certas mutações do gene ZFPM1 podem acarretar menos problemas nas costas e mais resistência.
Assim, a combinação de animais muito fortes e sociáveis pode ter feito os cavalos modernos galoparem por todo o planeta.
Cavalos domésticos influenciaram até a linguagem humana
Alguns grupos de cavalos, como os criados pelos povos Yamnaya, datam de mais de 5.000 anos de idade. Essa sociedade nômade teve uma influência de até 30% na herança genética dos povos da Europa, além de terem trazido novas línguas a diversas regiões.
Por esse motivo, pesquisadores acreditavam anteriormente que os cavalos dos Yamnaya provavelmente teriam dado origem aos cavalos domésticos tão abundantes de hoje. Contudo, a pesquisa mostrou que a semelhança genética entre as duas linhagens é na verdade bastante baixa. Além do mais, esses cavalos mais antigos eram criados também como fonte de leite e carne, assim como vacas.
Por outro lado, uma civilização guerreira chamada de Sintashta pode ter espalhado as características equinas que conhecemos hoje pela Eurásia. Esse povo foi responsável por criar carruagens de guerra e criar cavalos de forma extensiva e ampla, como uma commodity.
Eventualmente esta civilização dominou boa parte da Europa, levando sua língua, cultura e, claro, seus cavalos. Já no final da era do Bronze, entre 3000 e 3500 anos atrás, os cavalos Sintashta teriam substituído a maior parte de outras linhagens e raças de equinos.
“Eles [os cavalos] alcançaram todas as partes da Europa, até as partes mais ao norte, então substituíram as raças locais porque eles eram muito melhor adaptados”, afirma o coautor Morten Allentoft ao ABC news.
A pesquisa está disponível no periódico Nature.