Máscara de ouro milenar foi pintada com sangue humano

Letícia Silva Jordão
Imagem: Journal of Proteome Research

Um estudo recente descobriu que o povo da cultura Sicán utilizou sangue humano como tinta para realizar a pintura de uma antiga máscara de ouro milenar.

A máscara foi descoberta em 1990 por arqueólogos que acreditavam que o pigmento vermelho fosse o mineral cinábrio, que é feito de mercúrio e enxofre e era muito utilizado pelas culturas antigas pela sua cor vermelha.

Mas pesquisadores liderados por Elisabete Pires, que trabalha com química na Universidade de Oxford, descobriram que a tinta possuía proteínas advindas de sangue humano.

Ligações misteriosas do material

Os pesquisadores identificaram proteínas no pigmento da máscara que foram comparadas com o sangue humano e proteínas contidas em ovos de aves. Essas comparações foram possíveis porque foi utilizado um banco de dados com informações para comparar os ativos da máscara de ouro milenar.

Porém, por mais que os cientistas tenham encontrado ativos do sangue humano, a identidade do material de ligação tão eficaz na tinta permanece um mistério.

No estudo, não foi possível confirmar se as proteínas vieram realmente de sangue humano, ou se foram colocadas propositalmente na máscara. Mas, já é bastante conhecido que o povo Sicán realizava sacrifícios humanos utilizando um método de corte no pescoço e peito para maximizar o sangramento.

A máscara de ouro milenar da cultura Sicán

A cultura Sicán habitou a costa norte do Peru entre o século VIII até o século XVI. Durante o seu auge, este povo construiu templos monumentais e criaram objetos de ouro bem elaborados. Eles também foram responsáveis por controlar rotas de comércio que alcançaram as regiões do Amazonas, Colômbia e Chile.

A máscara de ouro milenar foi encontrada em uma tumba no Peru durante escavações arqueológicas. O artefato estava sobre a cabeça de um esqueleto de um homem de 40 a 50 anos que pertencia a elite da cultura Sicán.

Dentro da tumba também havia diversos artefatos de ouro e outros quatros esqueletos, sendo que dois deles pertenciam a jovem mulheres que foram posicionadas de forma diferente: uma estava em posição de parto e a outra de parteira.

Segundo os pesquisadores, a posição dos corpos e o sangue humano utilizado como tinta, fazia parte de um ritual realizado no enterro, onde eles representavam a vontade que o povo tinha do seu líder renascer.

A arqueóloga de Oxford, Luciana da Costa Carvalho disse que existem alguns documentos coloniais espanhóis que descrevem algumas crenças pré-hispânicas onde as elites sociais nasciam de estrelas ou ovos, e eram totalmente diferentes das pessoas comuns.

“Esses mitos também falam de como essas elites após a morte se transformam em divindades míticas ou ancestrais poderosos que deveriam ser adorados. Podemos pensar que o uso de sangue humano como aglutinantes é uma extensão do dogma religioso que a elite Sicán promulgou para que pudessem atingir a transformação para se tornarem ancestrais deificados” diz a arqueóloga.

A equipe planeja continuar investigando mais vestígios de sangue humano em outras máscaras de ouro milenar da cultura Sicán, para averiguar se a prática só ocorria em enterros da elite.

Compartilhar