Pesquisadores encontraram, em Jerusalém um “banho ritualístico”, um mikvé de dois mil anos de idade. As igrejas evangélicas batizam seus fiéis em espécies de “piscinas”, mergulhando-os para trás. O mikvé, ritual judaico, segue um processo bastante parecido. Trata-se também de um tanque de água, mas não necessariamente para o batismo. Os judeus geralmente utilizam o ritual para purificar mulheres após a menstruação, nascimento de um filho ou aos recém convertidos ao judaísmo – uma espécie de batismo, nesse último caso.
As descobertas
A equipe de arqueólogos encontrou o mikvé de dois mil anos de idade em um local que acredita-se ser o Jardim do Getsêmani, um local bíblico. Segundo a mitologia cristã, Jesus e seus discípulos oraram nesse jardim no dia anterior à sua crucificação. Hoje, há uma igreja cristã no local, a Igreja de Todas as Nações.
Getsêmani significa literalmente ‘lagar de azeite’. Lagar é o local onde as pessoas pisam sobre frutos, como na manufatura de vinho e azeite por meios mais rústicos. No caso, o jardim localiza-se no Monte das Oliveiras, o que explica a relação com o azeite.
No local, também havia uma igreja bizantina (a parte oriental do Império Romano), mas um pouco mais nova do que o banho sagrado, com cerca de 1500 anos de idade.
Eles descobriram as construções históricas durante uma obra, e não uma pesquisa arqueológica, conforme relata um comunicado da página oficial da Autoridade de Antiguidades de Israel. Os operários trabalhavam em um túnel de visitantes para a igreja. Inicialmente, ao escavar, eles notaram uma cavidade, e então, arqueólogos notaram que se tratava de um mikvé.
Importância do mikvé de dois mil anos de idade
A descoberta possui algumas implicações importantes. Acontece que a bíblia é extremamente imprecisa. Ao mesmo tempo que ela nos trás diversos fatos históricos reais, distorce-os. Isso ocorreu naturalmente com o tempo, e também por motivos políticos pela igreja Católica, conforme já explicamos em um texto sobre a Estrela de Belém. Portanto, quando a bíblia cita algo, pesquisadores precisam suspeitar.
Os pesquisadores encontram esses banhos rituais, como o mikvé de dois mil anos de idade, em construções particulares, edifícios públicos, além de áreas rurais e tumbas. Ou seja, a existência de um mikvé na área indica que realmente, havia algo ali, como a bíblia descreve, mas ainda não se sabe se como o Jardim do Getsêmani; isto é, se a bíblia descreveu o local de forma minimamente fiel.
“Não é do mikvé que ficamos tão entusiasmados, mas sim da interpretação, do significado dele. Porque apesar de haver várias escavações no local desde 1919 em diante, e de haver vários achados – das eras Bizantina e Cruzada, e outras – não houve nenhuma evidência do tempo de Jesus. Nada! E então, como um arqueólogo, surge a pergunta: há evidências da história do Novo Testamento, ou talvez tenha acontecido em outro lugar?”, disse Amit Re’em, da Autoridade de Antiguidades de Israel ao jornal The Times of Israel.
A bíblia descreve o local como um campo de oliveiras fora dos muros que cercavam Jerusalém. No jardim também havia o lagar, conforme as histórias. Mas não há evidências de nada. O mikvé representa o primeiro passo na desmistificação do que realmente havia naquele monte.