Sistema nervoso de artrópode de 310 milhões de anos conservado em fóssil

Mateus Marchetto
Imagem: Pexels /Pixabay

Um exemplo clássico da maneira como a fossilização ocorre são os tubarões. Em geral, o esqueleto destes peixes (que é feito de cartilagem) não fica conservado em fóssil. Já a mandíbula e os dentes, feitos de ossos, podem se fossilizar. Entretanto, um novo fóssil mostra que tecidos moles podem se preservar de uma forma curiosa.

Nesse sentido, pesquisadores registraram um raro caso de um sistema nervoso conservado em fóssil. O pequeno cérebro, por sua vez, pertenceu a um caranguejo-ferradura que morreu há mais ou menos 310 milhões de anos, onde hoje se encontra o estado de Illinois, nos EUA.

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Imagem: Russell Bicknell

O espécimen de Euproops danae pertence ao acervo do Yale Peabody Museum e, para avaliar a fossilização incomum, os pesquisadores registraram imagens e medições baseadas em raio-X para avaliar a composição química do fóssil.

A maioria destes artrópodes se fossilizou após morrerem e serem soterrados por camadas de sedimentos no fundo de lagos ou oceanos. Todavia, esse caranguejo-ferradura acabou com o sistema nervoso substituído por camadas de caulinita após a sua morte, como mostra a pesquisa. Assim, na cavidade onde antes ficavam os tecidos moles do sistema nervoso, a caulinita se formou e preencheu completamente a lacuna, deixando um registro preciso da morfologia do cérebro do bicho.

Tecido mole conservado em fóssil

Como comentado no exemplo do tubarão, um tecido mole do corpo de animais e plantas raramente acaba conservado em fóssil. Isso porque os microrganismos do ambiente acabam degradando a matéria orgânica antes dos ossos. Por isso, inclusive, os ossos demoram mais para sumir quando um animal morre.

Contudo, em condições muito especiais de baixa temperatura e pouco oxigênio, as bactérias e fungos do ambiente não conseguem digerir toda a matéria orgânica, que acaba se conservando junto com o fóssil.

Ainda, é possível que um animal ou planta acabe preso no âmbar. Essa substância na verdade se origina da seiva de árvores cristalizada, que pode se fossilizar. Quando essa seiva prende um inseto, por exemplo, praticamente todos os tecidos do bicho ficam preservados. Infelizmente não é possível retirar DNA de dinossauros a partir de mosquitos conservados em âmbar, para a decepção dos fãs de Jurassic Park.

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Imagem: Hans Braxmeier/ Pixabay 

Esta nova descoberta, no entanto, é bastante inédita no cenário de fósseis do mundo. Isso porque houve, sim, a degradação da matéria orgânica do cérebro do caranguejo. Contudo, o vácuo deixado pelo órgão foi substituído por um composto mineral e, esse sim, pode ser conservado ao longo de milhões de anos.

Os caranguejos-ferradura, vale ressaltar, viveram durante o período cambriano, quando houve uma explosão na formação de fósseis ao redor do mundo.

A pesquisa está disponível no periódico Geology.

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