Cientistas descobrem a última refeição do “Homem de Tollund”, com mais de 2400 anos

Mateus Marchetto
Homem de Tollund. Imagem: A. Mikkelsen

Em 6 de maio de 1950, uma família encontrou um corpo ao explorar uma turfeira na Dinamarca. Após muita confusão, descobriu-se que o corpo na verdade pertenceu a um homem da Idade do Ferro, há 2400 anos. A múmia recebeu o nome de Homem de Tollund e agora pesquisadores descobriram qual foi a sua última refeição.

Essa múmia, contudo, é diferente das egípcias. Isso porque a mumificação ocorreu por processos naturais. Acontece que as turfeiras são pântanos com quase nenhum oxigênio em seu solo, além de terem as baixas temperaturas dos países mais ao norte da Europa. Assim, corpos enterrados nesses pântanos acabam se conservando por milhares de anos, e muitos já foram encontrados por acaso.

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Turfeiras são pântanos com turfas, contendo baixas concentrações de oxigênio. Imagem: ivabalk / Pixabay 

Todavia, a pesquisadora Nina Helt Nielsen e sua equipe do Museu Silkeborg, na Dinamarca, acabam de encontrar a composição e quantidade da última refeição do Homem de Tollund. De acordo com a pesquisa, 85% do conteúdo intestinal da múmia era cevada, 5% linho e 9% Persicaria lapathifolia.

Além do mais, a equipe descobriu proteínas e ovos de três vermes intestinais: Trichuris (tricuríase), Taenia (teníase ou solitária) e Ascaris (ascaridíase ou lombriga). Havia também resquícios de um peixe consumido entre 12 e 24 horas antes da morte.

Interpretação da última refeição do Homem de Tollund

O Homem de Tollund ficou especialmente famoso pelo estado de conservação do seu corpo, como é possível ver na imagem inicial deste post. Ademais, as lesões e objetos no seu corpo – como a corda em seu pescoço – indicam que o homem foi vítima de um sacrifício.

De acordo com os resultados da pesquisa, todavia, a composição da última refeição do Homem de Tollund fora bastante normal para a época, com exceção da Persicaria. Isso porque essa planta é uma erva daninha, mas ainda assim foi cozida com pedaços de carvão e areia, indicando um possível ritual, de acordo com os cientistas.

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Imagem: Wikipedia Commons

Mesmo assim, Nielsen afirma: “Estou certa de nós iríamos ver algo similar se analisássemos os componentes intestinais de outros corpos das turfeiras”.

A descoberta reflete também a nutrição precária da comunidade à época. Os vermes provavelmente acabaram no intestino do homem pelo consumo de carne mal cozida e água suja. Já o valor nutricional da refeição indica apenas 1350 kcal, o que seria metade do valor mínimo indicado para um homem entre 30 e 40 anos, como o Homem de Tollund.

O artigo está disponível no periódico Antiquity.

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