Tubarão pré-histórico enigmático assombrou os oceanos milhões de anos atrás

Felipe Miranda
É o antecessor do grande tubarão-branco. Imagem: Euan Rannachan

Especialistas em fósseis afirmam ter adquirido informações inéditas sobre um gigantesco tubarão pré-histórico, ao descobrirem esqueletos completos dessas criaturas.

Os exemplares, encontrados em pequenas pedreiras no nordeste do México na última década, são da espécie Ptychodus – um ser que habitou os mares entre 105 e 75 milhões de anos atrás.

Antes, encontrava-se muitos dentes isolados do animal, já que sua ossada é um material cartilaginoso, que não mineraliza bem. Como resultado, fósseis mais completos desses tubarões são extremamente raros. Dessa forma, é uma tarefa extremamente difícil entender a aparência e definir a estrutura do corpo do animal.

Por consequência, é difícil entender a posição do tubarão em seu grupo evolutivo.

Os pesquisadores detalharam a nova descoberta em um artigo publicado em abril no periódico Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.

No artigo, os pesquisadores explicam que o tubarão “permaneceu um dos mais enigmáticos elasmobrânquios extintos (ou seja, tubarões, patins e raias) por quase dois séculos”.

“Sua aparência geral permaneceu um mistério até agora por causa da falta de material mais completo durante quase dois séculos”, disse ao The Guardian o Dr. Romain Vullo, pesquisador da Universidade de Rennes e primeiro autor do estudo.

As descobertas trazem luz a esse problema.

“A descoberta dos novos espécimes de Vallecillo, revelando a forma do corpo e a anatomia deste extinto tubarão, resolve este enigma”, explica o pesquisador.

Assim, os pesquisadores concordam que os fósseis são excelentes para a ciência, dado o nível de detalhes que podem fornecer.

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Imagem: F. Spindler

“Ptychodus tem sido um exemplo clássico de dentes em busca de um corpo”, disse o professor Michael I Coates, da Universidade de Chicago.

“E aqui temos ele, com análises minuciosas de onde ele fica na árvore genealógica do tubarão e uma boa facada em sua ecomorfologia – como ele se encaixa nos ecossistemas marinhos do final do Cretáceo”, explica Coates, que não esteve envolvido no estudo, ao The Guardian.

Os pesquisadores encontraram, entre os fósseis, seis espécimes do Ptychodus. Os fósseis foram datados pela pesquisa de cerca de 93 milhões de anos atrás.

Um dos fósseis é muito impressionante pelo nível de detalhes que fornece. Ele apresenta uma visão lateral extremamente minuciosa, com a presença de todos os elementos esqueléticos, dentes, restos musculares e até mesmo o contorno corporal do animal, contendo ainda o contorno de suas nadadeiras.

Além dele, três espécimes estavam quase completos. Somente dois estavam incompletos.

Com o nível de detalhes que os fósseis permitiram, os pesquisadores conseguiram encaixá-lo no local exato na “árvore genealógica” da evolução. Esse tubarão está no mesmo grupo do famoso e extinto megalodon.

tubarão pré-histórico
O fóssil do tubarão pré-histórico é muito detalhado. Imagem: R. Vullo.

O grupo se mantém até hoje através do tubarão-branco, que ainda existe nos dias de hoje.

Os fósseis permitiram até mesmo entender um pouco sobre a alimentação do tubarão. Os cientistas dizem que eles se alimentavam de animais com conchas. Eles saíam das áreas mais fundas e caçavam em águas abertas, caçando até mesmo tartarugas.

“Pensava-se que o Ptychodus era morfologicamente semelhante aos tubarões bentônicos como o tubarão-enfermeira moderno, mas agora sabemos que se parecia com o tubarão-porco existente, uma forma pelágica de natação rápida”, explica Vullo ao The Guardian.

Os cientistas acreditam que o tubarão foi extinto por causa da competição. A seleção natural o tirou do campeonato.

“Ptychodus nos fornece um espelho que nos mostra o que acontecerá com grandes predadores de ápice, como o tubarão-branco, se nós, como seu principal concorrente, não repensarmos nossas ações”, disse Patrick L Jambura, especialista em peixes fósseis da Universidade de Viena, que também não esteve envolvido no estudo

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