As árvores antigas nos contam muito da história do planeta através de suas marcas. Essas assinaturas dizem coisas sobre o passado do planeta Terra e acidentes que incidiram sobre o planeta. Algumas dessas assinaturas foram atribuídas pelos cientistas aos eventos de Miyake – seis megaexplosões solares que ocorreram ao longo dos últimos 9.300 anos e liberaram intensas quantidades de radiação pela biosfera terrestre.
“Existem seis eventos conhecidos [Miyake] abrangendo quase 10.000 anos”, disse ao ABC News o astrofísico Benjamin Pope, da Universidade de Queensland. Segundo ele, os picos mais recentes dos eventos de Miyake ocorreram em 774 e 993, durante o período medieval.
No entanto, uma nova pesquisa publicada no final de outubro no periódico Proceedings of the Royal Society traz uma nova perspectiva para essas marcas. Segundo os pesquisadores envolvidos, outras fontes que não erupções solares podem estar por trás das marcas de radiação nas árvores antigas.
“Existe um tipo de fenômeno astrofísico extremo que não entendemos e que na verdade pode ser uma ameaça para nós”, diz Pope.
A origem dos Eventos Miyake
Os cientistas desenvolveram uma biblioteca de código aberto de Python (disponível por meio deste link) chamada de ticktack. Por meio do programa, os cientistas compararam dados do ciclo de carbono e analisar essas marcas nas árvores. Assim, eles puderam “inferir parâmetros posteriores para todos os seis eventos conhecidos de Miyake. Eles não mostram uma relação consistente com o ciclo solar, e vários exibem durações estendidas que desafiam os modelos astrofísicos ou geofísicos”, conforme descrito no estudo.
Basicamente, conforme as árvores crescem, a sua parte externa vai ficando no interior. Logo, aqueles anéis que enxergamos em um corte de uma árvore, carregam assinaturas químicas do ambiente externo. Então, se há um aumento nos isótopos radioativos em uma determinada época, isso fica registrado nesses anéis das árvores, e pode ser datado.
Como esses seis eventos de Miyake, descoberto nas árvores, representam o que parece radiação vinda de explosões solares, o fenômeno foi obviamente atribuído a essas assinaturas. No entanto, isso está mudando, conforme alguns cientistas questionam a hipótese. “Algo não está se encaixando com o que sabemos no momento”, diz o o físico Gianluca Quarta, que não esteve envolvido no estudo ao Science News.
Os eventos foram nomeados devido a Fusa Miyake, física da Universidade de Nagoya, no Japão. Ela percebeu os picos de carbono-14 nas árvores em 2012. Após isso, esses picos foram detectados em árvores por todo o mundo, além de núcleos de gelo polar.
Recentemente, a SoCientífica falou sobre o Evento Carrington. Ocorrido em 1858, o Evento Carrington foi a pior tempestade solar já registrada pela humanidade a atingir a Terra. A tempestade queimou redes elétricas e redes de telégrafos, além de incendiar equipamentos elétricos.
A questão principal é que alguns desses eventos de Miyake são 80 vezes mais poderosos do que o evento Carrington. Além disso, se fossem eventos solares, os registros nos gelos dariam indícios disso. A comparação de dados mostrou que esses picos de radiação devem vir de outra fonte.
Além disso, caso os Eventos de Miyake fossem relacionados à atividade solar, eles deveriam se encaixar com o ciclo solar, que ocorre a cada 11 anos. Outro indício que pode refutar a possibilidade é o de que, por motivos que já explicamos, os polos são mais atingidos pelos ventos solares. Portanto, árvores mais próximas dos polos deveriam apresentar picos maiores. Mas esse não é um padrão que se repete na prática.
“Eles podem representar sérios riscos para a tecnologia global”, diz Pope.
O estudo ainda não põe um ponto final, mas abre caminho para outras explicações. Não há indícios fortes o suficiente nem explicações para os picos que refutem ou digam que as assinaturas não tenham ocorrido por explosões solares. O estudo, na verdade, traz a discussão de que pelo menos alguns dos Eventos Miyake provenham de outras fontes.