Restos mortais de família neandertal são encontrados na Sibéria

Daniela Marinho
Imagem: Tom Björklund

O homem Neandertal habitou a Europa e a Ásia antes do Homo sapiens. Os primeiros e nossos ancestrais compartilharam o continente europeu por cerca de 14 mil anos, no mínimo. Com um cérebro maior do que o do homem moderno, diversos indícios apontam que eles eram inteligentes e capazes de resolver problemas – contrariando vãs opiniões. Além disso, eles são os nossos parentes extintos mais próximos, mesmo depois de 40 mil anos.

Com “costumes culturais” semelhantes aos do homem moderno, o neandertal também enterrava seus mortos e viviam em sociedade; cada grupo era formado por 20 ou menos indivíduos. Desse modo, a partir de uma descoberta, foi possível afirmar que um grupo de de adultos e crianças morreu em um acampamento de caça há 50 mil anos atrás.

Família neandertal

Pesquisadores encontraram os restos mortais de parentes próximos, juntamente com ossos de outros indivíduos, numa caverna nas montanhas nevadas de Altai, na Sibéria. Ossos e dentes fragmentados revelam uma família neandertal e dão aos arqueólogos o conjunto de genoma mais completo de neandertais que se tem até hoje.

Em 2019, os escavadores acharam cerca de 90 mil artefatos, ferramentas feitas a partir de ossos, restos de animais e plantas e 74 fósseis de neandertal na caverna Chagyrskaya. Por conta dos restos orgânicos, é razoável presumir que a caverna tratava-se de um local de acampamento para a caça de bisões. Pela datação a partir do radiocarbono, acredita-se que os achados possuam entre 51 e 59 mil anos. Outra evidência é com relação ao clima: pela presença de restos de animais e pólen, o clima era muito frio quando os neandertais ocuparam a caverna.

A revista Nature divulgou recentemente uma nova análise a respeito da composição genética dos neandertais em Chagyrskaya. O estudo trouxe resultados surpreendentes, uma vez que produziu 13 genomas – quase o dobro de sequências completas do genoma neandertal existentes. Com a nova pesquisa genômica foi possível testar a hipótese de que os neandertais viviam em pequenas comunidades, não mais do que 20 pessoas, com indivíduos biologicamente relacionados; isto é, que possuíam algum grau de parentesco.

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Imagem: Canva

Relacionamentos familiares neandertais

De acordo com o estudo, os dados genéticos de 11 neandertais encontrados na caverna foram a prova substancial e incontestável do parentesco próximo ou dos relacionamentos familiares. Um relacionamento de primeiro grau ganhava forma: um homem adulto e uma mulher adolescente. Seriam irmãos, pai e filha? Até então não havia comprovação.

Contudo, a partir da investigação do DNA foi viável chegar a uma conclusão: o seu DNA mitocondrial não compatível (mtDNA), que geralmente é transmitido de mãe para filho, descartou a chance de se tratar de irmãos. Eram, portanto, o pai e sua filha adolescente. O pai também compartilhou mtDNA com outros dois homens, que provavelmente eram parentes maternos próximos: “por exemplo, eles poderiam ter compartilhado uma avó”, sugeriram os autores do estudo.

Migração feminina

Outra conclusão a que chegaram os pesquisadores é que o tamanho da comunidade local dos neandertais Chagyrskaya era pequeno, uma vez que, de fato, eles tinham laços biológicos familiares. Nesse contexto, a migração feminina era “um fator importante na organização social dos Chagyrskaya comunidade neandertal”, como escreveram os autores da pesquisa.

Naturalmente, as mulheres tendem a permanecer nas comunidades em que nasceram, porém, o comportamento não era unânime, visto que algumas mulheres deixavam suas comunidades e acabavam entrando em outras. O que os pesquisadores não sabem é se o tamanho do grupo (composto por no máximo 20 neandertais) também se aplicava em outras comunidades, sobretudo fora de Altai.

Dessa forma, acredita-se que o isolamento levou à morte desse grupo, podendo ter sido motivada pela fome ou tempestades avassaladoras.

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