Por que o nosso rosto fica tão diferente no filtro invertido do Tik Tok?

Dominic Albuquerque
Imagem: Tik Tok

O filtro invertido do Tik Tok pode causar certo incômodo em algumas pessoas. Ele reverte a selfie, mostrando na verdade o que o seu rosto se parece quando não está refletido num espelho; ou seja, é a sua imagem real, não refletida.

O efeito pode ser esquisito: a imagem invertida parece com você, mas com certas diferenças, enfatizando defeitos que você não tinha visto até então. É possível que seu olho esquerdo seja mais baixo, ou que um lado do queixo seja mais longo.

Isso pode gerar uma crise em alguns, que não reconhecem a imagem vista. Mas por que esse filtro causa isso? O que está por trás das nossas reações?

Nossos rostos são assimétricos

Nossos rostos não são simétricos. Mesmo que sejam distribuídos de forma simétrica (um olho em cada lado, um nariz no meio), o desenvolvimento do corpo e da face sofre influências de fatores ambientais e genéticos. Normalmente não percebemos essas assimetrias, porque estamos acostumados com o rosto que vemos no espelho.

Quando vemos nosso rosto no espelho, estamos vendo a versão reversa. Mas como nossa face é assimétrica, quando invertemos a imagem do espelho é que percebemos essas diferenças.

Ou seja, quando vemos nosso rosto no espelho, estamos vendo o oposto da realidade. As pessoas que olham para nós veem essa versão verdadeira, não a do espelho. O mesmo vale para selfies: quando tiramos uma selfie, a tecnologia pode inverter a imagem, como o espelho faz, ou mantê-la normal.

É essa versão “normal”, não reversa, que estranhamos.

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Imagem: Pixabay

Efeito da mera exposição

Por que estranhamos isso? É aí que entra o efeito da mera exposição. Sua hipótese afirma que nós preferimos as coisas com as quais estamos mais acostumados. Se aplicarmos isso à nossa imagem pessoal, poderíamos dizer que preferimos o nosso rosto invertido porque estamos acostumados com aquela imagem, por causa do nosso reflexo no espelho.

Isso foi corroborado por um artigo de 1977 que descobriu que indivíduos preferiam o reflexo do espelho ao invés do rosto “normal”, que normalmente aparece em fotografias. Familiares e amigos dos indivíduos preferiam a versão normal, que é a que eles estavam acostumados a verem.

Nosso cérebro não está acostumado com essa versão, mesmo que a reconheçamos como sendo nós mesmos.

Como o cérebro detecta rostos

O cérebro detecta rostos de uma forma específica, diferente das que faz com outros objetos visuais. Com tecnologias de neuroimagem, neurocientistas encontraram diversas regiões do cérebro que acendem quando diante rostos, diferentemente de outros objetos visuais.

Regiões no lobo temporal e occipital mostraram atividade particularmente alta, juntamente com partes do sistema límbico que ligavam emoções a rostos familiares.

O lado esquerdo do cérebro parece fazer o trabalho de reconhecer nossa própria face. Em pacientes com os dois hemisférios do cérebro que eram incapazes de se comunicar, os estudos indicaram que era o lado esquerdo aquele a reconhecer a própria face do indivíduo.

Uma região particular que tem gerado muito interesse é a área da face fusiforme, localizada no lobo temporal. Ela parece processar rostos, tanto dos outros quanto de nós mesmos.

Nossos cérebros são sensíveis à percepção de nós mesmos, ao ponto de possuírem caminhos neurais separados que lembram como éramos no passado, em oposição a como nos vemos agora, bem como nos vemos no espelho e em fotografias.

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