Petróleo ameaça sumidouro de carbono mais importante da África

Mateus Marchetto
Imagem: Brazzaville, Kinshasa, Congo River (NASA, International Space Station, 06/06/03)

Relatórios mostram que um terço da cobertura de florestas tropicais da Bacia do Congo se sobrepõem a áreas de possível exploração de petróleo e gás. A região é atualmente o maior sumidouro de carbono da África, absorvendo 600 milhões de toneladas de carbono por ano.

De acordo com um relatório de novembro de 2022, da organização Rainforest Foundation UK, até 38% do continente africano pode ser permeado por campos de extração e produção de petróleo futuramente. Isso devido a mudanças legislativas em diversos países do continente. Atualmente, 10% de todo o continente possui áreas industriais relacionadas ao óleo e gás.

Com esse avanço, 90% das florestas mais densas da Bacia do Congo podem estar sob ameaça direta pela extração de combustíveis fósseis (uma área duas vezes maior que a Alemanha). Ainda, em 2021, relatórios mostraram que o desmatamento subiu 5% em relação a 2020, o que pode parecer pouco, mas é um aumento histórico significativo para a região.

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Bacia do Congo. Imagem: ConservationIntl por Wikipedia Commons.

Ainda de acordo com o relatório, a área ameaçada abriga ao menos 150 grupos étnicos e um quinto de toda a biodiversidade do planeta. Mais de 35 milhões de pessoas vivem nas áreas passíveis de exploração de petróleo – além de mineração e extração de madeira.

A República Democrática do Congo é o país que abriga a maior parte da bacia: 60%. E julho de 2022, o país anunciou o leilão de 30 campos de exploração de petróleo, uma área de 11 milhões de hectares.

O problema do petróleo em florestas tropicais

Sumidouros de carbono são regiões com grande capacidade de retirar carbono da atmosfera e armazená-lo em formas que não contribuam para o efeito estufa e, consequentemente, o aquecimento global. Grandes florestas tropicais e florestas em crescimento tendem a absorver muito carbono da atmosfera para o crescimento de vegetais (plantas usam o gás carbônico para produzir carboidratos). Ainda, uma grande quantidade de carbono pode acabar armazenada no solo, com o enterro da matéria orgânica da floresta.

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Imagem: Kudra Abdulaziz/Pixabay 

O desmatamento impede o desenvolvimento da floresta e, por conseguinte, o sequestro eficiente de gás carbônico. Quando o desmatamento atinge níveis muito altos, a floresta para de absorver carbono e passa devolvê-lo para a atmosfera. Estima-se, aliás, que esse processo já esteja começando a acontecer na Amazônia, devido à ausência desastrosa de políticas eficientes de conservação, sobretudo durante o governo Bolsonaro.

Outro ponto importante na região da Bacia do Congo são os traficantes de madeira e caçadores ilegais, que exercem grande influência sobre as áreas de conservação da bacia. Muitos destes grupos possuem equipamentos militares e se financiam pela venda da madeira e do marfim, por exemplo.

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