O mundo está ficando sem tartarugas marinhas machos

Damares Alves
Imagem: Freepik

As tartarugas-verdes (Chelonia mydas) enfrentam múltiplas ameaças à sua sobrevivência, incluindo a caça, coleta de ovos, degradação de habitats e a captura acidental em redes de pesca.

Além disso, uma ameaça menos conhecida, mas igualmente grave, é a perda de filhotes machos na espécie.

“As tartarugas marinhas verdes estão listadas como ameaçadas de extinção na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, ameaçadas de extinção devido à caça furtiva, colisões com barcos, destruição de habitat e captura acidental em equipamentos de pesca”, disse o autor Dr. Arthur Barraza, pesquisador da o Australian Rivers Institute da Griffith University em um comunicado.

“Mas também enfrentam outra ameaça mais insidiosa ligada às alterações climáticas. Os embriões das tartarugas marinhas que se desenvolvem nos seus ovos têm uma determinação sexual dependente da temperatura, o que significa que cada vez mais se desenvolvem em fêmeas à medida que as temperaturas continuam a subir.”, completou ele.

Uma tartaruga-verde no meio do oceano
Imagem: Seasidesaltlife CC BY-SA 4.0

Um novo estudo liderado por Barraza revelou que poluentes ambientais estão contribuindo para a feminização das tartarugas marinhas verdes. Esses poluentes, como metais pesados e poluentes orgânicos, agem como “xenoestrogênios,” interferindo nos sistemas hormonais e promovendo a preferência por filhotes fêmeas.

As tartarugas marinhas verdes dependem da temperatura para determinar o sexo de seus embriões, com temperaturas mais quentes favorecendo a formação de filhotes fêmeas. Com o aumento global das temperaturas, a proporção de filhotes machos tem diminuído de forma dramática.

O estudo realizado na Ilha Heron, no sul da Grande Barreira de Corais, revelou que os níveis de xenoestrogênios nos filhotes estavam correlacionados com um maior viés feminino nos ninhos. Essa descoberta levanta preocupações devido à escassez de filhotes machos e outros desafios que as tartarugas marinhas enfrentam.

“À medida que a proporção sexual se aproxima de 100% de fêmeas, fica cada vez mais difícil para as tartarugas fêmeas adultas encontrarem um parceiro, o que é particularmente importante em vista que às alterações climáticas que já tornam as praias de nidificação mais quentes e mais tendenciosas para as fêmeas”, diz Barraza.

Para mitigar a perda de filhotes machos, além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a pesquisa sugere a necessidade de controlar os poluentes estrogênicos provenientes de atividades humanas, como mineração e poluição urbana.

Estratégias de longo prazo baseadas na ciência são essenciais para proteger essas espécies em extinção e equilibrar a proporção de sexos nas populações de tartarugas marinhas verdes.

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