Cópia de ovos de tartaruga impressos em 3D espionam caçadores

Felipe Miranda
Ovos de tartaruga. (Créditos da imagem: Wikimedia Commons).

Às vezes os cientistas recorrem a animais, plantas, ou qualquer coisa semelhante, fabricado em laboratório, especialmente para espionar os próprios animais. Com isso, é possível, portanto, estudar os grupos de animais para, por exemplo, evitar que novas espécies entrem em extinção. No entanto, ovos de tartaruga impressos em 3D  para encontrar criminosos são uma novidade.

Cientistas instalaram, dentro dos ovos falsos, localizadores GPS. Dessa forma, eles puderam localizar diversas redes de tráfico dos ovos, que são caçados em praias da Costa Rica, já que as tartarugas depositam seus ovos na areia, apesar de viverem a maior parte do tempo na água.

Muitas pessoas acreditam que ovos de tartarugas possuem propriedades afrodisíacas, e o tráfico desses ovos infelizmente é algo bastante comum, colocando as espécies do animal em risco. A busca por fórmulas afrodisíacas em animais selvagens é algo constante. Até mesmo elefantes e rinocerontes são alvos de caça – o marfim é vendido como um material medicinal e afrodisíaco. 

Por ser um mercado totalmente oculto, é extremamente difícil de rastrear esse tipo de tráfico. Pessoas são mortas ao investigar. Além disso, é algo terrivelmente rentável, e grandes nomes estão envolvidos nos crimes, pelo menos no caso do marfim. É um cultura criticada principalmente entre as classes altas asiáticas, mas a moda às vezes também se estende para o ocidente. Mas com os ovos a história é um pouco diferente.

Copiando tartarugas

Sabe-se que uma tartaruga leva, tipicamente, cerca de 20 minutos para depositar seus ovos na areia e voltar para a água. Pensando nisso, a bióloga Helen Pheasey resolveu atuar. Os caçadores furtivos apareceriam logo após o período de depósito dos ovos. Portanto, esse processo era uma ótima oportunidade de rastrear as rotas criminosas.

O dispositivos secreto de rastreamento chama-se InvestEGGator – um belo de um trocadilho. Cada um dos ovos continha um rastreador. No total, foram 100 ovos distribuídos pela areia. Dessa forma, os cientistas puderam rastrear os caçadores simplesmente abrindo um aplicativo de smartphone. Eles descreveram o trabalho em um estudo no periódico Current Biology.

O ovo rastreador. (Créditos da imagem: Helen Pheasey).

“Foi realmente um caso de pensar, bom, quais são os desafios quando você realmente começa a colocá-los em ninhos de tartaruga?”, como explica Pheasey à Smithsonian Magazine. “Será que vai dar certo?”.

Quem desenvolveu ovos de tartaruga impressos em 3D foi Kim Williams-Guillén. A ideia foi inicialmente pensada para a edição de 2015 do concurso Wildlife Crime Tech Challenge, que incentiva o desenvolvimento de saídas tecnológicas para determinados problemas relacionados à conservação ambiental. O maior desafio, conforme ele, foi fazer com que o objeto ficasse realmente parecido com um ovo de tartaruga. Hoje, sabemos que funcionou perfeitamente.

Quando o caçador se torna a caça

Há aquele ditado diz que ‘a caça de torna o caçador’, também apresentado às vezes como ‘o caçador se torna a caça’. Enfim, a ordem dos fatores não altera o produto. Seja qual for o ditado correto, ambos possuem um sentido parecido e funcionam para esse caso. No artigo, os pesquisadores têm uma boa notícia: o dispositivo de rastreamento funcionou perfeitamente.

A rota mais curta possuía pouco mais de um quilômetro. Mas houve, também, rotas de mais de 100 quilômetros. Em outras palavras, os pesquisadores conseguiram traçar a rota completa. Da caça, passando por possíveis intermediários, até chegar ao comprador final. “Sentir aquele momento em que a cadeia de comércio estava completa… obviamente foi um sentimento muito bom”, diz Pheasey.

“Não há rede de crime organizado, não há jogadores chefes, pelo que deduzimos. Até agora, o que estamos descobrindo é que são indivíduos indo para a praia, pegando um ninho e tentando vendê-lo o mais rápido possível”, explica Pheasey ao portal Wired. O fato de não ser uma rede organizada pode facilitar, então, no desenvolvimento de estratégias para o combate do crime.

O estudo foi publicado no periódico Current Biology. Com informações de Smithsonian Magazine e Wired.

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