Novo implante cerebral possibilita controle da Alexa apenas com o pensamento

Daniela Marinho
Imagem: Cortesia de Synchron

Com o advento da Inteligência Artificial (IA), as assistentes virtuais, acionadas por voz, têm se tornado uma ferramenta muito prática e cada vez mais interativa. Nesse contexto, agora é possível controlar essa tecnologia através do pensamento. Mark, um homem de 64 anos com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), usa a Amazon Alexa o tempo todo. Graças a um implante cerebral, ele começou a comandar o dispositivo com sua mente.

A ELA é uma doença que afeta as células nervosas localizadas tanto no cérebro quanto na medula espinhal. Com o passar do tempo, essa condição leva à perda progressiva do controle dos músculos, resultando em dificuldades cada vez maiores para a realização de movimentos voluntários.

Mark, que preferiu manter seu nome em sigilo, enfrenta limitações severas em sua mobilidade por conta dessa doença. Embora ainda consiga caminhar e falar, ele perdeu completamente a capacidade de usar os braços e as mãos.

Em busca de novas possibilidades para melhorar sua qualidade de vida, Mark se voluntariou para participar de um ensaio clínico inovador. Como parte desse estudo, ele recebeu, em agosto de 2023, uma interface cérebro-computador (BCI, na sigla em inglês) desenvolvida pela startup Synchron. Essa tecnologia de ponta visa conectar diretamente o cérebro de Mark a sistemas computacionais, abrindo portas para uma nova forma de interação com o mundo ao seu redor.

Synchron, a rival da Neuralink de Elon Musk

Demonstração de como funciona o implante neural da Synchron. Divulgação: Synchron

A Synchron está trabalhando no desenvolvimento de uma interface cérebro-computador (BCI) capaz de decodificar os sinais emitidos pelo cérebro, com o objetivo de permitir que pessoas com paralisia controlem dispositivos digitais apenas usando seus pensamentos.

Recentemente, a empresa anunciou um marco significativo: seu BCI agora é compatível com a assistente virtual Alexa, sem que haja a necessidade de comandos por voz ou qualquer tipo de interação física, como o uso de uma tela sensível ao toque. Isso significa que a interface possibilita a comunicação direta entre o cérebro e a Alexa, e Mark é a primeira pessoa a utilizar essa tecnologia em conjunto com um BCI implantado.

Thomas Oxley, CEO da Synchron, destacou a importância desse avanço ao afirmar: “Pessoas com paralisia perdem sua liberdade de expressão”. A missão da empresa é devolver parte dessa liberdade, permitindo que os pacientes possam novamente se comunicar e interagir com o mundo ao integrar seu sistema BCI com tecnologias amplamente usadas no cotidiano, como a Alexa.

A Synchron é apenas uma das diversas empresas, incluindo a Neuralink, de Elon Musk, que está investindo na comercialização de BCIs. Embora pesquisadores tenham estudado essas interfaces durante décadas, principalmente em ambientes acadêmicos, nenhuma empresa até o momento conseguiu a aprovação regulatória necessária para vender a tecnologia ao público.

Atualmente, o Synchron já implantou seu BCI em seis pessoas nos Estados Unidos e em quatro na Austrália, como parte de estudos iniciais. Além disso, a empresa está se preparando para um ensaio clínico maior, com um número ainda mais expressivo de participantes, na tentativa de avanço para fases mais amplas de testes e regulamentação.

Privacidade e normalidade

As assistentes virtuais já ofereçam um suporte valioso para pessoas com deficiência, mas muitas vezes esses dispositivos não garantem a privacidade necessária, já que funcionam por meio de comandos de voz que podem ser facilmente ouvidos por quem está ao redor.

Para Emily Graczyk, professora assistente de engenharia biomédica na Case Western Reserve University, a questão vai além da independência básica: “Restaurar qualquer grau de independência é realmente importante para as pessoas, mas restaurar a capacidade de usar esses dispositivos de forma privada e independente é ainda melhor”, afirma.

Ela acredita que a abordagem adotada pela Synchron pode oferecer mais do que autonomia funcional. Ao permitir que pessoas com mobilidade reduzida usem os mesmos dispositivos que seus familiares e amigos, como a Alexa, sem depender de tecnologias de assistência especial, essa inovação pode ajudar a restaurar uma sensação de normalidade no dia a dia dessas pessoas, gerando uma maior integração social e emocional.

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