Sem querer, o ser humano criou uma nova barreira em torno da Terra

Felipe Miranda
(NASA).

Desde 2017, sondas da NASA perceberam que há uma nova barreira no entorno da Terra. Não só por isso, mas devido a todas as mudanças que causamos no clima e nas características do planeta, os cientistas cogitam há um certo tempo instituir um novo Período Geológico: o Antropoceno. Períodos geológicos representam momentos de características marcantes específicas. Portanto, assumir um novo desses períodos se tornará uma grande disruptura. 

As mudanças que causamos no planeta costumam não apresentar bons resultados. Por exemplo, estamos destruindo a camada de ozônio, amplificando o efeito estufa, extinguindo animais por todo o mundo, destruindo reservas de água, matando a biodiversidade marinha, destruindo florestas, entre outros incontáveis efeitos negativos.

Mas essa nova barreira é diferente de tudo que já causamos.

Detecções estranhas

Em 2012, a NASA lançou ao espaço um par de pequenas sondas, as Sondas Van Allen. A agência as projetou para estudar o Cinturão de Van Allen, uma região de partículas carregadas provenientes do espaço. Há dois cinturões principais, mantidos por ali pelo campo magnético da Terra.

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O Cinturão de Van Allen. (Wikimedia Commons).

Acontece que quando as sondas rondavam pela órbita terrestre, notaram algo estranho. Alguma barreira de ondas de baixa frequência mantinha os poderosos ataques solares sob controle.

Já falamos algumas vezes sobre o campo magnético da Terra. Ele protege a Terra de erupções e ventos solares, mas não perfeitamente. O campo magnético bloqueia grande parte das partículas altamente carregadas emitidas principalmente pelo Sol. Se em grande quantidade, essas partículas causam interferências em eletrônicos, por exemplo. Já falamos um pouco dos efeitos de uma grande tempestade solar em outro texto

É justamente o campo magnético que mantém o Cinturão de Van Allen do lado de fora do planeta. Essas partículas atingiram a atmosfera da Terra, se não fosse pelo campo magnético. Para dar um exemplo extremo, Marte perdeu sua atmosfera quando perdeu seu campo magnético. As partículas carregadas do Sol destruíram a atmosfera do planeta vermelho, tornando-o um deserto inerte. 

No caso da Terra, o campo magnético também sumirá um dia. Mas como a Terra possui um tamanho bem maior do que Marte, manterá sua atividade geológica em funcionamento e, consequentemente, o campo magnético atuante por mais alguns bilhões de anos. 

A nova barreira no entorno da Terra

Mas essa bolha de baixa frequência que as Sondas Van Allen localizaram ajudava ainda mais a segurar o cinturão. Ao investigar um pouco mais, os cientistas perceberam que as emissões de rádio da Terra mantinham a bolha ali. Ou seja, a nossa frenética comunicação nos protege da feroz radiação espacial. Há, portanto, uma nova barreira no entorno da Terra.

“Uma série de experimentos e observações descobriram que, sob as condições certas, os sinais de comunicação de rádio na faixa de frequência VLF podem de fato afetar as propriedades do ambiente de radiação de alta energia ao redor da Terra”, disse  Phil Erickson, diretor assistente do MIT Haystack Observatory em um comunicado da NASA na ocasião da descoberta, em 2017. 

O físico estadunidense James Van Allen descobriu o cinturão de radiação em 1958 com experimentos do Explorer 1, o primeiro satélite norte-americano. Na época, eles fizeram uma medição da localização e da extensão do Cinturão de Van Allen. No entanto, hoje essas medidas se alteraram, e não sabia-se o motivo. Erro nas medições antigas? Algum fenômeno natural?

Mas conforme as sondas perceberam, a bolha de rádio coincide exatamente com os limites internos atuais do Cinturão. Em outras palavras, possivelmente a bolha artificial empurrou o cinturão para fora, distanciando-o ainda mais do planeta. No fim da década de 1950 e início de 1960, quando os cientistas fizeram as primeiras medições, a emissão de rádio era muito menor, em comparação com hoje. 

O vídeo abaixo, feito pela NASA, explica um pouco sobre a bolha (narrado e legendado em inglês). 

Com informações de Science Alert, NASA e The Atlantic

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