Navio naufragado há mais de cem anos é encontrado nas profundezas da Antártida

Dominic Albuquerque

Endurance, o navio naufragado do explorador Sir Ernest Shackleton, foi encontrado no último final de semana nas profundezas do Mar de Weddell, na Antártida.

O navio foi atingido pelo gelo do mar e afundou em 1915, forçando Shackleton e seus homens a escapar a pé e em pequenos barcos.

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Shackelton (à esquerda) observando os restos da embarcação pouco antes dela afundar. (Spri/University of Cambridge)

Ainda que mergulhado há mais de um século, ele permanece da mesma forma que estava no dia em que afundou: a madeira, mesmo danificada, permanece unida na maior parte, e o nome do navio continua claramente visível na popa.

“Sem qualquer exagero, esse é, de longe, o melhor naufrágio de um navio de madeira que eu já vi até então”, disse o arqueólogo marinho, Mensun Bound, participante da comitiva de expedição, que agora realizou um sonho na sua carreira de quase 50 anos.

“Ele está de pé, muito orgulhoso no fundo do mar, intacto e num brilhante estado de preservação”, contou ele.

O projeto para encontrar o navio naufragado

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O Endurance ficou preso no gelo marinho por meses antes de afundar em 1915. (Getty Images/Spri)

O projeto foi criado pela Falklands Maritime Heritage Trust (FMHT), usando um navio quebra-gelo sul-africano, Agulhas II, equipado com submersíveis operados de maneira remota.

O líder da missão, Dr. John Shears, geógrafo polar veterano, descreveu o momento em que as câmeras miraram no nome do navio como “de cair o queixo”.

“A descoberta do naufrágio é uma incrível conquista”, acrescentou. “Nós completamos com sucesso a busca de naufrágio mais difícil do mundo, lutando constantemente contra o deslocamento do gelo marinho, tempestades e temperaturas abaixo de -18C. Nós atingimos o que muitas pessoas disseram ser impossível”.

O Endurance foi encontrado no Mar de Weddell a uma profunidade de 3.008m. O naufrágio em si é designado pelo Tratado da Antártida internacional como um monumento que não deve ser perturbado. Por isso, nenhum artefato físico foi levado até a superfície.

O navio ainda tem a mesma aparência que quando foi fotografado pela última vez em 1915 por Frank Hurley, cineasta de Shackleton. Os mastros estão abaixados, o cordame está emaranhado, mas o casco continua coerente. Alguns danos são visíveis na proa, possivelmente onde o navio atingiu o fundo do mar durante a queda. As âncoras estão presentes, e os submarinos avistaram até mesmo algumas botas e louças.

“Você pode até ver o nome do navio – E N D U R A N C E – arqueado na popa diretamente abaixo do corrimão”, contou Mensun Bound. “Você pode ver a escotilha da cabine de Shackleton. Nesse momento, você de fato sente o respiro desse grande homem atrás do seu pescoço”.

Como era de se esperar, o naufrágio foi colonizado por muitas espécies de vida marinha; mas felizmente, não do tipo que consome madeira.

“O Endurance, com a aparência de um navio fantasma, está polvilhado com uma diversidade impressionante de vida marinha do fundo do mar – ascídias, anêmonas, esponjas de várias formas, crinoides (relacionados a ouriços e estrelas do mar), todas filtrando sua nutrição das águas profundas e frias do mar de Weddell”, comentou a Dra. Michelle Taylor, da Essex University, bióloga de águas polares profundas.

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O Endurance no estaleiro em 1914, antes da partida em direção à Antártida.

A Expedição Imperial Transantártica de Shackleton buscava realizar a primeira travessia terrestre da Antártida, mas teve que ser abandonada quando o navio da expedição, o Endurance, ficou preso no gelo marinho e afundou. Shackleton de alguma forma conseguiu manter seus homens seguros, navegando em mares ferozes num pequeno barco em busca de ajuda.

Encontrar o navio naufragado parecia uma tarefa impossível, pois o Mar de Weddell está quase sempre coberto por um gelo marinho espesso. Se aproximar da localização onde ocorreu o naufrágio por si é difícil, e mais ainda realizar uma busca na região. Felizmente, o último mês teve a menor extensão de gelo marinho já registrado desde os anos 1970, o que favoreceu as condições da exploração em busca do navio naufragado.

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