Depois que uma morte acontece, existem diversas maneiras dignas de descartar os restos mortais do falecido. Porém, durante um cerco em 1346, um antigo exército resolveu utilizar seus soldados mortos contra seus inimigos. Para isso, os mongóis catapultaram os corpos de vítimas mortas da peste negra contra uma cidade.
A antiga cidade de Caffa foi há muito tempo o local de um conflito entre os genoveses e os tártaros-mongóis. A cidade tinha uma população de cerca de 16.000 pessoas e serviu como um ponto importante para o comércio na Europa Oriental.
Hoje, especialistas estudam registros dessa época para entender como a Peste Negra entrou na cidade, e o fato dos mongóis catapultaram vítimas da doença, está entre as opções da lista.
Relato mostra que os mongóis catapultaram soldados
Durante um dos cercos tártaro-mongóis da cidade, seu exército foi infectado pela Peste Negra. De acordo com Gabriele de Mussi, uma fonte contemporânea, mas de segunda mão, a infecção se espalhou rapidamente entre os homens e começou a matá-los em grande número diariamente.
Percebendo que não poderiam vencer o cerco com tão pouca força, eles resolveram se concentrar em dar a seus companheiros mortos uma despedida mais útil no momento do conflito.
De acordo com uma tradução do conto de Mussi, “eles ordenaram que os cadáveres fossem colocados em catapultas e arremessados para a cidade na esperança de que o fedor intolerável matasse todos dentro. O que pareciam montanhas de mortos foram jogados na cidade, e os cristãos não puderam se esconder, fugir ou escapar deles, embora tenham jogado o maior número possível de corpos no mar”.
O relato continua falando que “logo os cadáveres em decomposição contaminaram o ar e envenenaram o abastecimento de água. O fedor era tão forte que quase um em vários milhares estava em condições de fugir dos restos do exército tártaro”.
“Além disso, uma única pessoa doente pode espalhar o veneno e infectar pessoas e lugares simplesmente olhando para eles. Ninguém sabia como se defender ou poderia descobrir um método para fazê-lo. Como resultado, praticamente todos que estiveram no Oriente, bem como no sul e no norte, morreram abruptamente após contrair essa doença pestilenta, como se fossem atingidos por uma flecha mortal que fazia crescer um tumor em seus corpos.
Estudo mostra que ataque fez a doença entrar na cidade
De acordo com um estudo publicado na Emerging Infectious Diseases pelo cientista Mark Wheelis sobre a guerra biológica durante o cerco de Caffa, a afirmação é plausível. Ele acha que havia duas maneiras pelas quais a doença poderia ter se infiltrado na cidade na época.
A primeira forma era a partir de pequenos roedores portadores da doença que infectaram os soldados. Já a segunda seria arremessando os colegas caídos na cidade por meio de uma catapulta.
Ele acredita que o cenário dos ratos era menos plausível do que o cenário da catapulta. Ele ressalta que a infraestrutura do cerco estaria a dezenas de metros dos ninhos de ratos, o que seria muito longe para eles viajarem.
Enquanto isso, ele acredita que a ideia do exército de que os cadáveres espalhariam doenças era consistente com o conceito de doença do público na época, e que lidar com os cadáveres poderia ter sido uma estratégia eficaz para o exército.
Mas Wheelis está cético de que o ataque tenha levado a doença a se espalhar ainda mais pela Europa e considera que quaisquer conclusões baseadas em uma única fonte (embora respeitável) são problemáticas. Ele acredita que o fato dos mongóis catapultaram suas vítimas é a melhor explicação para a epidemia de peste da cidade.