Lêmures podem cantar com ritmos muitos semelhantes aos humanos

Mateus Marchetto
Imagem: Smilla Svane / Pixabay

A música é provavelmente quase tão antiga quanto a própria história da humanidade. As combinações de sons e silêncios geram sentimentos únicos, dependendo da forma que estão dentro de um ritmo. Acontece que lêmures podem ter ritmos extremamente parecidos com aqueles utilizados pela espécie humana.

Ao longo de 12 anos, por conseguinte, pesquisadores registraram o canto dos lêmures da espécie Indri indri, em Madagascar. Curiosamente, estes são alguns dos poucos primatas a terem a capacidade de vocalizar e cantar. Por esse motivo, aliás, cientistas os escolheram para tentar entender a origem do ritmo nos primatas.

Segundo a pesquisa, publicada no periódico Current Biology, os registros de 20 grupos destes lêmures, com 39 animais no total, mostraram uma semelhança impressionante com o ritmo que conhecemos em nossa própria música e vocalização.

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Imagem: Pexels / Pixabay 

Há uma gama enorme de ritmos que podem estar presentes em uma música, por exemplo. Estes ritmos, portanto, se baseiam em intervalos entre batidas ou sons, que podem representar uma relação entre números inteiros, como 1:1 e 1:2.

Acontece que as vocalizações dos Indri indri, como mostra a pesquisa, apresentam estes dois tipos de compasso em sua composição. Antes disso, pesquisadores apenas conheciam ritmos do tipo em certas espécies de pássaros.

“Procurar por características musicais em outras espécies nos permite construir uma ‘árvore evolutiva” de tratos musicais, e entender como as capacidades de ritmo originaram e evoluíram em humanos,” afirma o coautor Andrea Ravignani em uma declaração.

Distância entre lêmures e humanos

Uma das grandes dúvidas que a pesquisa levanta, contudo, é sobre a ausência de vocalizações rítmicas como cantos em outros primatas não-humanos. Isso porque o ancestral comum entre lêmures e seres humanos provavelmente viveu há mais de 77 milhões de anos, antes mesmo da extinção dos dinossauros.

Portanto, é difícil dizer se a característica é uma herança evolutiva de fato ou um evento de convergência evolutiva. Nesse último caso, dois organismos que não são relacionados – evolutivamente – de forma próxima podem desenvolver características parecidas. Morcegos e aves têm asas, por exemplo, ainda que ambos sejam evolutivamente distantes.

“É fácil de se sugerir que categorias rítmicas podem ter seguido a mesma trajetória evolucionária em espécies que cantam, como pássaros canoros, indris e humanos,” afirma Chiara De Gregorio, coautora da pesquisa ao New York Times. “Mas nós não podemos eliminar a possibilidade de que a música humana não é realmente nova mas possui propriedades musicais intrínsecas que são mais profundamente enraizadas na linhagem primata do que anteriormente se imaginava.”

Como dito no início, ademais, a música data de quase tão antigamente quanto o surgimento dos primeiros traços de cultura humana. Um dos artefatos mais antigos feito no marfim de mamutes, por exemplo, era uma flauta.

A pesquisa sugere, neste sentido, que a origem de sons tão naturais e únicos da espécie humana podem estar na verdade relacionados à fisiologia do cérebro dos primatas, ou mesmo do próprio ambiente no qual habitamos, há muitos milhões de anos.

A pesquisa está disponível no periódico Current Biology.

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