Humanos tiveram várias chances para migrar da África nos últimos 300 mil anos

Mateus Marchetto
Imagem: WikiImages / Pixabay

Entre especialistas em evolução humana há um consenso de que nossa espécie começou a migrar da África em um evento há 65.000 anos. Contudo, uma nova pesquisa indica que nós tivemos várias janelas de oportunidade para sair de nosso continente de origem nos últimos 300.000 anos.

De acordo com o trio de pesquisadores da Universidade de Cambridge, mais um colega da Universidade de Tartu, mudanças climáticas podem ter aberto “janelas climáticas” para a espécie humana. De acordo com a equipe, aliás, uma destas janelas coincide com a conhecida migração de 65.000 anos atrás.

Acontece que os Homo sapiens vieram de florestas tropicais próximas à atual África Subsaariana. A partir daí nossa espécie foi para o Oriente Médio, Europa e Ásia, finalmente chegando às Américas e Oceania. Contudo, o caminho mais fácil para chegar ao Oriente Médio provavelmente foi pela ponta da Península Arábica.

Fora esse caminho, nossa espécie poderia ter seguido em direção ao Egito, com um pequeno obstáculo: o Deserto de Sinai. Assim, a equipe criou modelos climáticos e ecológicos que levam em consideração os níveis de chuvas e também o nível do mar para avaliar a dificuldade para se migrar da África, tanto por Sinai quanto pela Arábia.

Por que, afinal, migrar da África?

Antes de nossa espécie dominar a maior parte do planeta, a Europa era lar dos Neandertais, uma espécie-parente de humanos que acabaram extintos – talvez por nossa culpa. Já na Ásia, os Denisovanos eram dominantes, também parecidos com os Neandertais, e tendo o mesmo fim.

Acontece que, por motivos ainda desconhecidos, nossa espécie buscou novos horizontes a se explorar. Vale lembrar que nestes tempos a humanidade ainda não conhecia a escrita e a agricultura, éramos pequenas tribos de caçadores-coletores. Sendo assim, os H. sapiens dependiam de pastagens e populações de grandes animais, como mostra a pesquisa.

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Imagem: Herbert Aust / Pixabay 

Por esse motivo, aliás, o volume de chuvas era tão importante para a migração. Especialistas afirmam que chuvas abaixo de 10cm anuais não seriam suficientes para manter as condições climáticas mínimas para a migração da África, como aponta o artigo do The New York Times.

Acontece que, de acordo com a nova pesquisa, esses níveis de chuvas podem ter acontecido várias vezes nos últimos 300 mil anos. Isso, portanto, poderia ter permitido o crescimento de pastagens imensas, inclusive ao longo do Deserto do Sinai já citado. Com estas pastagens, os antigos humanos poderiam caçar de forma mais abundante e, talvez, suportar migrar da África outras vezes.

Vale ressaltar que pesquisadores já encontraram fósseis de humanos com mais de 85.000 anos fora da África. Contudo, estes indivíduos esparsos provavelmente não tiveram um papel muito profundo na colonização do planeta.

A pesquisa está disponível no periódico Nature Communications.

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